A China vai
sediar a partir de domingo (14) o Fórum do Cinturão e da Rota para a
Cooperação Internacional (The Belt and Road Forum for International Cooperation, em inglês). Será na capital do país, Pequim, e deve contar com a presença de quase 30 chefes de
Estado e de governo. Com o objetivo de aumentar o investimento em projetos de infraestrutura em países da Ásia, Europa e África, é o mais importante encontro da área desde que a iniciativa Um
Cinturão, Uma Rota (One Belt, One Road) foi lançada em 2013 pelo
presidente chinês Xi Jinping.
A ideia é promover uma rede de
infraestrutura, comércio e cooperação econômica ao longo dos mais de 60
países que compõem o que a China planeja estabelecer como uma Nova Rota
da Seda, revivendo no século 21 as antigas rotas milenares que
conectavam o Ocidente e o Oriente.
A iniciativa é composta pelo
Cinturão Econômico da Rota da Seda, que busca ligar a China por meio de
ferrovias e rodovias aos países da Ásia, da Europa e da África, além da
Rota da Seda Marítima do Século 21, cujo foco são os investimentos em
modernização de portos nas regiões abrangidas pela proposta chinesa.
Para
apoiar as obras de transporte, energia e telecomunicações, foi
estabelecido em 2014 o Fundo da Rota da Seda, com US$ 40 bilhões de
recursos. Além do fundo, em 2015, a China criou o Banco Asiático de
Investimento em Infraestrutura que, segundo o governo, já aprovou
financiamento para projetos no valor de US$ 1,7 bilhão.
Segundo
o embaixador do Brasil na China, Marcos Caramuru, a iniciativa Um
Cinturão, Uma Rota é a principal em matéria de política externa chinesa
com foco em conectividade e infraestrutura. “O fórum nasceu da
ideia da China de aumentar sua conexão ferroviária, rodoviária e em
infraestrutura em geral nos países da antiga Rota da Seda,
principalmente os países da Europa Central e da Ásia. Mas, ao longo do
tempo, os chineses ampliaram a ideia de conectividade ao resto do mundo,
que também se dá pelo mar. A ideia central é financiamento de
infraestrutura”, disse.
O embaixador destacou que há um déficit
na área de infraestrutura em diversos países há vários anos, em muitos
casos criado pelo fato de as organizações multilaterais que sempre
apoiaram o crescimento econômico terem se concentrado mais no
financiamento de políticas sociais. “Os chineses, por outro lado,
fizeram um esforço próprio de investimento muito grande em
infraestrutura que é visível em rodovias, ferrovias, aeroportos, portos.
Esse investimento é que move a ideia de conectividade e é o potencial
de sucesso da iniciativa, porque ela preenche um gap (lacuna) que está aí há muitos anos e foi criando um déficit de infraestrutura [no mundo]”, afirmou Caramuru.
Na
avaliação do embaixador, os chineses parecem ver nessa iniciativa o
início de uma nova articulação internacional, mas, conforme ressaltou,
ainda é cedo para vislumbrar como se dará o desenvolvimento dessa
proposta após o fórum. “É algo entre um novo mecanismo que trataria de
uma forma ampla de infraestrutura e talvez um novo embrião de uma
concertação internacional mais expressiva”, acrescentou. Caramuru
lembra que a China, por ser a segunda maior economia do mundo,
tornou-se um país que naturalmente tem uma projeção internacional.
“E
essa projeção será tanto maior ou não tão grande na medida em nós
soubermos com mais clareza quais serão os rumos da política americana.
Quando a política americana determinou que ia se voltar mais para dentro
do que para fora, isso também abriu um espaço para que a China se
apresentasse como um país de grande projeção internacional”, completou.
Para
o cientista político e professor do curso de relações internacionais da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Maurício Santoro, o
projeto de investimentos em infraestrutura chinês está concentrado
principalmente na Ásia Central e no Sudeste Asiático. “A ideia é focar
nesses países que estão no entorno geográfico da China e fazer uma série
de investimentos na infraestrutura conectando-os melhor aos mercados
chineses”, disse.
As discussões da
reunião de alto nível deverão se concentrar nas áreas de obras em
infraestrutura, investimento industrial, cooperação econômica,
comercial, financeira e marítima, recursos energéticos, intercâmbio
cultural e meio ambiente. A expectativa do governo chinês é que sejam
firmados cerca de 50 acordos de cooperação.
Além de líderes
mundiais, como o presidente da Rússia, Vladimir Putin, são esperados o
secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António
Guterres, o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, e a
diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine
Lagarde. O embaixador Marcos Caramuru e o secretário especial de
Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Hussein Ali Kalout,
vão representar o Brasil no fórum internacional.
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