O ex-presidente do Banco Central e sócio fundador da Gávea
Investimentos, Arminio Fraga, acredita que, se o governo do presidente
em exercício Michel Temer começar bem, é possível que a economia
brasileira comece a dar sinais positivos no segundo semestre para voltar
a crescer em 2017. "Acho que se o governo largar bem já é possível no segundo semestre
que a economia comece a dar sinais de vida", afirmou Fraga em conversa
com jornalistas nesta segunda-feira (16) após fazer palestra na Câmara
de Comércio Brasil e Estados Unidos.
Fraga usou como exemplo de possível reação rápida da economia o ano
de 1999, quando se projetava contração de 4% do Produto Interno Bruto
(PIB), mas o País acabou tendo crescimento. "Já no segundo semestre (de
1999) o PIB começou a crescer a mais ou menos 4% ao ano e ficou assim
até a crise de 2001. Então, em tese é possível (a reação da economia no
segundo semestre)."
Segundo Fraga, o Brasil pode voltar a crescer 1% no ano que vem e
que, embora pareça pouco, é um avanço importante, considerando que o
PIB deve ter contração forte este ano. Para ele, o Brasil "arrumado"
deveria crescer ao redor de 4% ao ano. Questionado se ele vê juros de um
dígito no País no final de 2017, Fraga avaliou que é pouco provável.
"Isso passa por trabalho profundo de ajuste fiscal."
Sobre a Operação Lava Jato, ele disse que é essencial que as
investigações continuem. "É fundamental que seja preservada e que vá até
o fim. Isso vai ser extremamente saudável para o Brasil e vai permitir
uma evolução para a política e a sociedade." Quando perguntado sobre
possibilidade de volta ao governo, Fraga respondeu que esse não é seu
objetivo.
Fraga minimizou o impacto positivo nas receitas do governo da CPMF e
defendeu como prioritária a reforma da Previdência para que o Brasil
consiga arrumar as contas públicas e voltar a crescer. O economista falou da necessidade de ação rápida do governo do
presidente em exercício Michel Temer para aprovar medidas de ajuste "o
quanto antes".
"São tantas (as necessidades), então vai ter que haver
uma sequência e acho que o importante é começar. Na medida em que se
crie uma sensação de movimento, de progresso, penso que as expectativas
vão começar a mudar e talvez seja possível correr atrás de uma agenda
mais longa", disse o ex-presidente do BC aos jornalistas.
As declarações recentes do novo ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, da intenção de cortar despesas do governo, mostram na opinião
de Fraga que o ministro está sendo "realista e pragmático". "Ele sabe
que o desafio maior é do lado dos gastos. Eu pessoalmente não gosto da
CPMF. Acho que seria um aumento de receita relativamente pequeno",
afirmou. "Seria melhor concentrar esforços na reforma da Previdência e
no caminho de desvinculação e desindexação do orçamento, esse sim teria
um impacto enorme."
A desvinculação de receitas do orçamento público, na visão do
ex-presidente do BC, poderia compensar a falta de aumento de impostos no
ajuste fiscal. Ele ressaltou ainda que há "grandes espaços" nas
desonerações. No caso da reforma da Previdência, Fraga acha positivo que
o governo discuta a questão com os sindicatos. "Os sindicatos precisam
olhar esses números com cuidado e pensar no futuro do país. Espero que
apoiem".
Para Fraga, é possível que medidas saiam do papel em 30 dias, mas o
importante neste momento inicial é o governo sinalizar quais são as
prioridades e "agir de forma comprometida e firme". As primeiras
indicações de Temer, que incluem as redução de ministérios, são sinais
positivos. "Do ponto de vista quantitativo o efeito é pequeno, mas do
ponto de vista do que se sinaliza, aí sim é importante."
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