A China Communications Construction Company (CCCC), conglomerado
chinês de infraestrutura, equipamentos pesados, e serviços de dragagem,
acaba de desembarcar no Brasil. A primeira aquisição de ativo do grupo
no país será uma participação no Terminal de Uso Privado (TUP) de São
Luís, no Maranhão, projeto multicargas da WPR, braço de infraestrutura
do grupo WTorre. O sócio chinês vai fazer aporte de R$ 400 milhões.
O
termo de compromisso entre as duas empresas foi assinado ontem,
conforme adiantou o Valor PRO, serviço de informação em tempo real do
Valor. A CCCC entra como investidora no terminal, cujo projeto total
está orçado em R$ 1,5 bilhão. Além do aporte da CCCC, o projeto irá
captar R$ 1,2 bilhão em dívida, que deverá ser paga com receitas da
própria operação do empreendimento.
A estimativa é que o TUP leve
três anos para ficar pronto. As obras devem começar no segundo semestre,
segundo informou o grupo WTorre ao Valor. Entre as cargas que serão
movimentadas estão a produção agrícola do Meio-Oeste, fertilizantes,
líquidos, carga geral e, futuramente, talvez contêineres.
A CCCC e
a WPR não revelam a fatia de cada uma no projeto, que deverá ser
negociada ao fim do processo de diligência realizado pelo banco Modal,
assessor financeiro exclusivo da CCCC na região. Segundo afirmou o grupo
WTorre, o controle fica com a WPR.
O projeto será desenvolvido em
uma área de 2 milhões de metros quadrados, com acesso direto à BR-135
(que liga o Maranhão a Minas Gerais) e às ferrovias Carajás e
Transnordestina. Terá capacidade anual para movimentar 24,8 milhões de
toneladas.
A CCCC é a maior empresa de infraestrutura da China.
Além de construir, opera ativos em outros países. No fim do ano passado
tinha US$ 150 bilhões investidos em concessões de infraestrutura de
transportes - de empreendimentos prontos aos ainda em construção. O
conglomerado tem capital misto, mas o controle é estatal e está listado
na Bolsa de Hong Kong. Em 2015, obteve receita equivalente a US$ 120
bilhões, sendo US$ 20 bilhões do braço internacional.
Na noite de
quarta-feira foi inaugurado em São Paulo o escritório da CCCC South
America Regional Company, holding 100% da CCCC. Foi criada para cuidar
exclusivamente de negócios na América do Sul, onde o grupo asiático quer
ter maior presença.
Hoje, a região responde por 1% do faturamento
do braço internacional do grupo. A companhia tem projetos na Argentina,
no Peru e na América Central, mas o maior potencial de crescimento é no
Brasil. Até agora a CCCC atuava no país fornecendo equipamentos e
serviços de suas subsidiárias, com a ZPMC, maior fabricante de
guindastes portuários - responsável por 75% do mercado mundial -, e com a
Shanghai Dredging Co., dona de uma das maiores frotas de dragas do
mundo. A empresa já trabalhou nos portos de Santos (SP), Paranaguá (PR) e
Rio de Janeiro.
"É um grande mercado, há grande demanda por
infraestrutura e boas oportunidades", disse ao Valor Chang Yunbo,
presidente da CCCC South America Regional Company. A meta do grupo no
país é investir em concessões e projetos privados de infraestrutura de
transportes de forma completa, combinando vários tipos de "expertises" -
desde o projeto, construção, serviços e modelagens de financiamento.
Estão no radar portos, aeroportos, rodovias e ferrovias.
"Há
muitas oportunidades, mas o Brasil ainda vai sofrer nos próximos anos
escassez de capital disponível para investimento, por isso ter um
parceiro como a CCCC é magnífico", diz Eduardo Centola, sócio do banco
Modal.
Yunbo confirma. Diz que a CCCC tem capacidade muito forte de
mobilizar financiamento na China, tanto com bancos estatais como com
bancos comerciais. "Somos o melhor cliente desses bancos", afirma.
Os
R$ 400 milhões que serão aportados de capital no TUP da WPR integram um
pacote de US$ 1 bilhão que a companhia quer investir no Brasil. Mas não
adianta onde nem de que forma o restante do recurso será aplicado.
Apenas
que os valores por projeto não devem ser menores que US$ 300 milhões.
"Sem tamanho suficiente o custo [do negócio] será alto e você não será
competitivo", diz Yunbo.
A crise econômica e política no Brasil
não inibe a estratégia da CCCC. Yunbo diz ser necessário olhar as coisas
mais realisticamente. "Todo país, toda economia tem seus problemas, não
só o Brasil. Mas como investidores sempre olhamos no longo prazo, não
estamos investindo hoje e vendendo amanhã", afirma. Para Centola, eis a
maior diferença da CCCC. "Quando se tem um horizonte como esse, a forma
como se mensura o risco é muito diferente". (imagem de superponte em Beijing, China, construída e administrada pela CCCC)
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