Um relatório comercial da Maersk sobre o primeiro trimestre de 2017
projeta que o comércio exterior do Brasil deve demorar três anos para se
recuperar aos níveis pré-crise. Embora as importações tenham começado a
melhorar graças ao maior volume de comércio na rota asiática, a empresa
avalia que as exportações, principalmente de commodities,
foram impactadas negativamente pela falta de espaço nos navios e pela
demanda mais fraca da Europa. A estratégia do grupo é, assim como seus
clientes, manter a cautela sobre o que irá acontecer neste ano.
Para
a Maersk, as importações devem continuar aumentando pelo restante do
ano e permanecer abaixo da performance de 2015, o que dificulta manter o
atual ritmo de expansão. O volume de importações e exportações do
Brasil no primeiro trimestre foi 21% menor do que o registrado no mesmo
período de 2015. Para a rota asiática, esse total foi 34% menor do que o
registrado há dois anos. “Vamos ter que esperar até 2020 para ver uma
retomada do volume de negócios globais com o Brasil para os níveis
pré-crise, de antes de 2015”, destaca o diretor da Maersk Line para
costa leste da América do Sul, Antonio Dominguez.
Com as
companhias se mantendo cautelosas, as exportações estão sofrendo nas
duas rotas mais importantes: Europa e Ásia. O relatório identifica que,
para a rota se recuperar, as exportações precisam crescer, assim como as
importações, mas isso será desafiador diante do atual cenário. Juntas,
exportações e importações cresceram 5,8% entre janeiro e março de 2017.
Foi o segundo trimestre consecutivo de crescimento para o Brasil após
quedas contínuas nos 15 meses anteriores. De acordo com o relatório, os
ganhos se deram por conta do aumento de 14% nas importações, ante um
aumento modesto de 0,1% nas exportações, que registraram queda
significativa nos volumes de milho, soja e algodão.
Dominguez aponta que atualmente falta espaço significativo nos navios. Commodities
foram os que mais sofreram com a queda das importações em 2016, o que
resultou em menos contêineres retornando para o país, limitando a
atuação de exportadores. “Queremos continuar a investir, desde navios
mais eficientes até mais equipamentos. Um investimento importante será
em tecnologias que possibilitem uma melhor visibilidade de todo o supply chain e melhorem a experiência dos nossos clientes”, ressalta.
Para
tentar resolver esse desequilibro e cobrir os gastos de trazer
contêineres vazios para o Brasil, com o volume de exportações
ultrapassando o volume de importações, a Maersk Line espera uma melhora
gradual nas taxas de frete em 2017. A empresa também prevê que as
importações brasileiras alcançarão outro resultado de dois dígitos no
segundo e terceiro trimestres, uma vez que a base de comparação é muito
baixa, mas provavelmente cairá em crescimento para um dígito no quarto
trimestre, antes do Natal. Para tornar possível alcançar melhores
resultados das importações estão os produtos acabados e principalmente
bens de consumo, até 9,5%.
No segmento de produtos refrigerados, a
exportação de frango para Europa está em queda, com a Rússia se
tornando mais autossuficiente. Isso impacta o volume total de exportação
de frango para o resto do mundo, com queda de 3,9% no primeiro
trimestre e contribuindo com uma queda de 8,2% na exportação de produtos
perecíveis para a Europa também. No segmento de carne, as
entregas foram adiadas ou transferidas para diferentes mercados em
março, por conta da Operação Carne Fraca da Polícia Federal.
Na
visão da Maersk, a situação da carne no Brasil apenas teve um impacto
técnico nos números do primeiro trimestre com a exportação caindo 13%. A
expectativa é que o segundo trimestre mostre desempenho melhor em abril
depois que os contêineres foram entregues ou transferidos para países
diferentes. “O governo brasileiro resolveu a situação com muita
agilidade”, afirmou Dominguez.
Os fretes despencaram 19% em 2016,
o que levou a Maersk a reportar prejuízo de US$ 376 milhões. No
primeiro trimestre de 2017, a empresa observa alta de 4,4% nas taxas. No
entanto, Dominguez explica que essa melhoria não compensou o aumento da
ordem de 80% no custo de bunker, olhando trades Ásia-
Europa, Europa-Ásia e Europa-EUA. Na América Latina os preços ainda
estão muito impactados e a recuperação é mais lenta. “Esperamos que os
fretes aumentem gradativamente em 2017 já que a indústria está passando
por momento desafiador no mundo inteiro”, afirma.
O diretor da
Maersk Line para costa leste sul-americana acrescenta que o Brasil teve
alguns indicadores positivos no início de 2017, como a queda de juros, o
aumento da confiança do consumidor e maiores vendas no varejo. Ele
também citou o decreto 9.048/17, cujo objetivo foi dar segurança aos
investidores do setor portuário. Segundo o executivo, dar mais clareza
às regras é importante para investimentos no país. “Se as reformas
(trabalhistas e tributárias) forem aprovadas, o ambiente de negócios no
Brasil vai melhorar”, acredita.
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