Os rebaixamentos sofridos pelo Brasil nos últimos meses pelas
agências de classificação de risco pouco afetaram um dos principais
indicadores do interesse dos investidores estrangeiros.
O risco país continua em níveis baixos, próximos aos de quando o país
ainda tinha grau de investimento (garantia de que não corre risco de
dar calote na dívida pública). Segundo especialistas, as elevadas
reservas internacionais e o bom desempenho das exportações têm ajudado a
manter o índice em níveis baixos.
Definido como a diferença entre os juros dos títulos públicos
brasileiros no exterior e os títulos do Tesouro norte-americano,
calculada dia a dia, o risco país funciona como um termômetro da
desconfiança dos investidores internacionais. Quanto maior a diferença,
maior a percepção de risco dos aplicadores em relação a um papel. O
indicador foi criado pelo banco de investimentos JPMorgan, em 1992.
O risco país encerrou 2017 em 240 pontos. Na última quarta-feira (18),
segundo dados mais recentes, estava em 244 pontos. Pelo indicador, os
títulos públicos brasileiros em circulação no exterior tinham juros 2,44
pontos percentuais maiores que os papéis equivalentes do Tesouro
norte-americano, considerado o investimento mais seguro do mundo.
O nível é semelhante ao registrado no fim de 2014, quando o Brasil ainda
tinha grau de investimento. No início de setembro de 2015, quando a
Standard & Poor’s (S&P) tornou-se a primeira agência a retirar o
selo de bom pagador do país, o índice estava em torno de 390 pontos.
Chegou a 569 pontos em fevereiro de 2016, recuando gradualmente nos
meses seguintes, principalmente após a destituição da ex-presidente
Dilma Rousseff.
Atualmente, as agências S&P e Fitch classificam o Brasil três níveis abaixo do grau de investimento. Os rebaixamentos mais recentes
ocorreram em janeiro (S&P) e em fevereiro (Fitch). O principal
argumento foi o adiamento da aprovação da reforma da Previdência.
A Moody’s tem uma avaliação mais otimista. Além de ter mantido o país
dois níveis abaixo do selo de bom pagador, este mês elevou de negativa
para neutra a perspectiva da nota do país, indicando que não pretende
alterar a classificação nos próximos meses
<http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2018-04/moodys-melhora-perspectiva-da-nota-de-credito-do-brasil>.
Segundo a agência, o crescimento da economia previsto para 2018 e a
possibilidade de aprovação de reformas estruturais pelo próximo governo
permitiram a conservação da nota.
Para o economista-chefe da Sulamérica Investimentos, Newton Rosa, as
dificuldades fiscais do governo, que não consegue aprovar a reforma da
Previdência e viu as medidas provisórias de ajuste fiscal editadas no
fim do ano passado perder a validade, são atenuadas pela situação do
país no mercado internacional.
As reservas internacionais de US$ 383 bilhões mais do que cobrem a
dívida externa do governo e das empresas, atualmente em US$ 316,2
bilhões, contribuindo para manter o risco país em níveis baixos.
“Mesmo com a difícil situação fiscal, o Brasil tem um setor externo
robusto. Se o capital externo quiser sair do país, existem dólares para
pagar todo mundo. Isso faz com que o investidor internacional mantenha o
interesse na economia brasileira”, disse o economista.
Professor de Economia e Finanças Internacionais da Escola Brasileira de
Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas
(FGV/Ebape), Istvan Kasznar concorda com a solidez das contas externas
brasileiras.
Segundo ele, o diagnóstico das agências de classificação de risco nem
sempre consegue ser suficiente porque o banqueiro que quer comprar
títulos da dívida brasileira no exterior não leva em consideração
somente a situação fiscal.
“De fato, o Brasil não cresce, patina. O déficit primário está em torno
de R$ 140 bilhões, e o governo enfrenta dificuldades políticas. Por
outro lado, a inflação está baixíssima, e o país exporta muito petróleo,
soja e milho. O painel de formação de reservas internacionais é muito
bom. Quando se combina um elemento com o outro, chega-se à conclusão de
que o Brasil é mais resiliente para a ótica externa do que pareceria”,
explicou.
Em relação à possibilidade de que o risco país suba com eventuais
incertezas e turbulências decorrentes das eleições de outubro, os
economistas divergem. Newton Rosa diz que as expectativas podem se
deteriorar se o vencedor das eleições não se comprometer com a
continuidade das medidas de ajuste. O professor da FGV tem uma postura
mais cautelosa.
“As [empresas] transnacionais reclamam do Brasil, mas acreditam nele. O
Banco Central não fez nenhuma artimanha para queimar as reservas
internacionais. De fato, está impossível saber o que vai acontecer com
as eleições brasileiras. A vertente política é volátil, mas a vertente
econômica, mesmo com problemas no Brasil e no mundo, está fortificante”,
disse Kasznar.
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