Cinco meses após a Organização Mundial do Comércio (OMC) condenar a
política de incentivos fiscais praticada no Brasil e afirmar que o
regime automotivo nacional infringe as leis de livre comércio, o governo
federal decidiu flexibilizar as medidas de proteção à produção nacional
e, assim, estimular a concorrência com produtos importados.
A
intenção de rever os pontos do Programa de Incentivo à Inovação
Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores
(Inovar-Auto) foi confirmada hoje (18) pelo secretário de
Desenvolvimento e Competitividade Industrial do Ministério da Indústria,
Comércio Exterior e Serviços, Igor Calvet.
“Não podemos mais
discriminar entre produtores nacionais e estrangeiros e, creio, a nova
política automotiva brasileira não fará essa discriminação”, disse
Calvet ao participar, em Brasília, do início das discussões das regras
que substituirão o atual regime automotivo. Batizado de Rota 2030, o
novo programa vai substituir o Inovar-Auto a partir de janeiro de 2018 e
deve vigorar por 13 anos.
Segundo o secretário, embora tenha
proporcionado avanços, o Inovar-Auto tem sido alvo de questionamentos
pelo “protecionismo exacerbado”. Para os críticos, os incentivos
tributários concedidos à indústria nacional vem impedindo a entrada de
veículos importados no país, principalmente os produzidos por marcas
chinesas.
“Essa visão excessivamente protecionista de resguardar a
todo o custo o mercado brasileiro está sendo alterada. Abriremos essa
discussão com os importadores e com os produtores nacionais, mas a nosso
ver, a competição dos veículos importados, a exposição dos produtores
nacionais à competição, será saudável e importante para o fim do
protecionismo exacerbado”, afirmou Calvet.
Ao
participar da reunião com representantes de outros órgãos do governo e
do setor produtivo, o ministro da Indústria, Comércio Exterior e
Serviços, Marcos Pereira, destacou que o principal objetivo do novo
regime automotivo é pensar o futuro” do setor, “olhando para um
horizonte maior”.
A expectativa é que, com regras claras e de
longo prazo, estabelecidas a partir da discussão com os representantes
da indústria e da análise das projeções mundiais para o setor, os
investidores se sintam mais seguros e, consequentemente, o produto
nacional se torne mais competitivo. No entanto, a mudança não implica
necessariamente a redução dos preços dos automóveis no médio prazo,
segundo Calvet.
“No Brasil, os preços dependem de uma série de
variáveis, como as questões tributárias, as dificuldades logísticas, as
questões trabalhistas. O governo federal vem enfrentando essas questões,
propondo reformas para melhorar o ambiente de negócios, o que poderá
contribuir para baratear o custo de produção no país”, argumentou o
secretário, que defendeu a manutenção de incentivos tributários para
investimentos em pesquisa, desenvolvimento e inovação do setor.
Crítico
da cobrança de 30 pontos extras de Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) das montadoras que não têm fábrica no Brasil e
que não tenham aderido ao programa Inovar-Auto – alíquota considerada
irregular pela Organização Mundial do Comércio (OMC) – o presidente da
Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de
Veículos Automotores (Abeifa), Luiz Gandini, disse que a mudança nas
regras pode acabar com a desigualdade de condições entre os fabricantes
nacionais e estrangeiros.
“Essas novas discussões vão permitir ao
país caminhar mais rápido, retomando o crescimento econômico. No nosso
setor, o que precisamos é de previsibilidade. O IPI foi de 25% a 55%. O
mesmo aconteceu com outros impostos. É impossível se planejar com essas
mudanças.”
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