As
exportações brasileiras poderiam ser mais expressivas se o País aproveitasse
melhor mecanismos da Organização Mundial do Comércio (OMC) para derrubar
barreiras comerciais. Ao contrário do que fazem os Estados Unidos e países
europeus, o Brasil subutiliza os Comitês para Levantar Preocupações Comerciais
Específicas na OMC. Essa é a conclusão do Relatório sobre Estratégias de Acesso
a Mercado: mecanismos não litigiosos para solução de controvérsias na OMC, da Confederação Nacional da Indústria
(CNI) em parceria
com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos
(Apex-Brasil).
Os
comitês funcionam como a conciliação na justiça comum. Se as partes chegam a um
acordo, a questão está resolvida. Sem acordo, elas podem decidir começar a
disputa numa instância superior. São nesses foros que as principais economias
do mundo conseguem eliminar metade das barreiras impostas a seus produtos
industriais e agrícolas. Os Estados Unidos, seguido da União Europeia, Índia,
México e Austrália são os países que mais levaram questões aos comitês
especiais da OMC nos últimos 20 anos.
De
acordo com o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi, a
entidade está engajada na sensibilização do setor empresarial para melhor
identificar barreiras em terceiros mercados e subsidiar as negociações do
governo nesses comitês. “No entanto, esse processo deve vir simultaneamente à
criação de uma estratégia de governo para remover barreiras”, destaca. “Quanto
mais usarmos os comitês, mais chances teremos de derrubar barreiras sem
litígio. Além disso, nos comitês há oportunidade dos países fazerem coalizões e
aumentarem seu poder de negociação. ”
Provocado pelo setor industrial, o
governo brasileiro acaba de levar dois casos para o Comitê de Barreiras
Técnicas ao Comércio da OMC. O Brasil questiona o fato de a União
Europeia não reconhecer a erva mate exportada como produto orgânico e
exigências desproporcionais nas exportações de cadernos para o Peru. Quando
um governo quer proteger sua produção interna, seja agrícola ou industrial, ele
normalmente lança mão de duas estratégias: aumenta a tarifa de importação ou
cria barreiras não-tarifárias, como exigir inúmeros certificados. “As barreiras
não-tarifárias são menos transparentes e mais difíceis de serem identificadas
do que as medidas tarifárias. Elas são criadas por normas legais pouco precisas
e com bases científica questionáveis”, afirma Abijaodi.
Nos
últimos 21 anos, o Brasil levantou ou apoiou 57 preocupações comerciais
específicas de medidas sanitárias e fitossanitárias que afetavam, principalmente,
a exportação de proteína animal. Conseguiu a solução parcial ou total de 42%
delas. O país é ainda menos ativo no Comitê de Barreiras Técnicas ao Comércio,
que envolvem temas da indústria. Desde 1996, o governo brasileiro só levantou
seis questões.
O governo americano é o mais ativo
nos comitês da OMC. Nas últimas duas décadas, os Estados Unidos apresentaram ou
apoiaram 126 questionamentos no Comitê de Subsídios e Medidas Compensatórias.
No Comitê de Barreiras Técnicas, levantaram 198 questões, sendo dez delas
contra o Brasil, como no caso da etiquetagem de produtos de origem animal e
requerimento para registro de material hospitalar.
Para
levantar barreiras contra os produtos americanos, os Estados Unidos usam as
informações compiladas por suas agências de inteligência e complementa com as
contribuições de empresas, associações setoriais, comitês de assessoramento em
comércio e embaixadas norte-americanas. No Brasil, não há um mecanismo
organizado de monitoramento de barreiras.
Os BRICS – grupo formado por
Brasil, Rússia, índia, China e África do Sul – e os Estados Unidos são os
principais alvos da União Europeia no Comitê de Medidas Sanitárias e
Fitossanitárias, aquele que trata de barreiras no setor agrícola. Apresentou 86
reclamações e conseguiu resolver mais de 50%. Nos casos contra a China, o bloco
europeu derrubou total ou parcialmente pelo menos 60% das barreiras. No Comitê
de Barreiras Técnicas, a União Europeia levantou 224 questões.
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