*Até a crise de 2008,
dizia-se, como verdade definitiva, que o futuro dos mares seria dos meganavios
carregadores de contêineres. Afinal, quanto maior fosse o cargueiro mais
contêineres carregaria, o que, obviamente, diminuiria os custos de transporte e
aumentaria os lucros dos grandes armadores. Com isso, os portos de pouca
profundidade seriam obrigados a aplicar muitos recursos em obras de dragagem e
construir infraestrutura mais adequada ou seriam excluídos das linhas.
Hoje, porém,
essa verdade já tem sido relativizada. Depois da crise, enquanto a demanda não
cresce, não são poucas as mudanças anunciadas: os armadores não parecem tão
dispostos a fazer novos investimentos, preferindo consolidar os serviços atuais
e reduzir as frequências das linhas, especialmente no eixo Ásia-Europa. Sem
contar que todos os armadores estão na expectativa dos efeitos que produzirá a
investigação que a Comissão Europeia começa a fazer sobre os acordos de preços
de fretes promovidos pelas empresas-líderes do mercado.
O que os
analistas entendem é que a estratégia desses armadores de implantar linhas com
cargueiros de maior capacidade, se pôde baixar os fretes e demais despesas com
transporte intercontinental, complicou o custo de toda a cadeia. Basta lembrar
que, desde outubro, 115 barcos que estão em serviço nas rotas Ásia- Costa Leste
dos Estados Unidos e Ásia-Norte da Europa refizeram suas rotas, deixando de
fazê-las pelos grandes canais, ainda que o trajeto seja mais longo.
Em outras palavras:
com a redução do preço do combustível e o espaço ocioso nos megacargueiros em
função de baixa demanda dos últimos tempos, muitas rotas foram alteradas, em
função da necessidade de se buscar maior rentabilidade. Por isso, muitos
supercargueiros deixaram os trajetos-troncos estabelecidos anteriormente,
tomando a rota do Cabo da Boa Esperança, na África do Sul.
Essa alternativa fez
baixar o tráfego pelos canais de Suez e do Panamá. Tanto que a administração do
Canal de Suez reduziu em 30% as tarifas cobradas, depois de registrar quedas
significativas no tráfego de 2015. Aquela alternativa aumenta em uma semana a
viagem, mas absorve maior quantidade de navios – na maioria, supercargueiros.
Com isso, evitar-se-ia um excesso de capacidade, ou seja, que os navios
trafegassem com muito espaço ocioso.
Se essa opção
conseguirá manter os fretes a preços baixos é a dúvida que fica. Se a demanda
voltar aos bons tempos, é provável que a tendência de se construir cargueiros
cada vez maiores siga em frente. Por enquanto, só resta esperar...
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* Milton Lourenço, presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do
Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado
de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de
Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br.
Site: www.fiorde.com.br
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