O posicionamento favorável à privatização da Companhia Docas de São
Sebastião (CDSS) manifestado pelo presidente da estatal, Casemiro Tércio
dos Reis Lima Carvalho, na audiência pública realizada no mês passado
na Câmara dos Deputados, em Brasília, está sendo bastante criticado por
lideranças sindicais e trabalhadores que atuam no complexo portuário do
litoral norte paulista.
Promovido pelo deputado federal e ex-prefeito de Santos, João Paulo
Tavares Papa (PSDB), o encontro reuniu empresários, sindicalistas,
dirigentes das administradoras portuárias estatais, políticos,
representantes do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), do Ministério
Público do Trabalho (MPT) e demais autoridades do setor.
Além do posicionamento contrário aos interesses dos trabalhadores,
Casemiro Tércio, no cargo em razão de mais uma nefasta e vergonhosa
indicação política, teceu várias críticas aos empregados da empresa que
administra, a qual, não por acaso, vem colecionando sucessivos fracassos
e retrocessos desde sua chegada.
Com declarações notadamente inoportunas e nada condizentes para um
ocupante do importante cargo, Casemiro Tércio apenas ratificou sua
condição de mandatário meramente político, ou seja, de estar presidente
por conta de conchavos e troca de favores partidários, limitado em se
tratando da questão portuária, de poucos recursos técnicos e nenhum tato
com as demais instituições, o que explica o leque de deficiências na
gestão da Docas local.
Isso ficou claramente patenteado através de seu frágil repertório
quando, ao fazer uso do microfone na audiência pública, resolveu culpar a
tudo e a todos pelos problemas que deveriam ser atribuídos à sua
própria e combalida administração.
Ao invés do "mea culpa" preferiu abrir fogo contra a Polícia Federal,
Receita Federal, Praticagem do Estado de São Paulo, colaboradores
concursados e até mesmo contra a ala feminina da estatal, segundo ele,
os verdadeiros responsáveis pelos problemas verificados na CDSS. Enfim,
uma atitude covarde e desprezível, além de um fiasco que entra pelas
portas dos fundos para a história da empresa.
Para agravar ainda mais o descontentamento da classe laboral com a
atual administração do porto sebastianense, durante reunião ordinária
ocorrida dias após o encontro realizado na Capital Federal, o Conselho
de Administração (CONSAD) da empresa também manifestou-se favoravelmente
à desestatização da administradora portuária.
De acordo com os representantes laborais, a transferência da gestão da
Autoridade Portuária de São Sebastião para a iniciativa privada ou até
mesmo para o capital estrangeiro poderá gerar consequências irreparáveis
para a economia da região em razão do provável desemprego em massa dos
atuais doqueiros da empresa, em sua maioria concursados, e não
apadrinhados por partidos políticos que seguem corroendo as
administrações públicas.
Com efeito, o cenário naquele município e demais cidades com
atividades ligadas ao complexo poderá ser agravado em face da séria
ameaça que consiste na possível perda de centenas de postos de serviços
destinados aos trabalhadores portuários avulsos, reconhecidos e
amparados pela Lei 12.815/2013.
Vale ressaltar que juntos, doqueiros, estivadores, conferentes,
arrumadores, consertadores de carga e vigias de bordo não só construíram
um rico histórico de lutas e conquistas, como também ajudaram a
construir o Porto de São Sebastião, um dos principais polos de
escoamento do etanol brasileiro e demais granéis líquidos.
Além disso, pelo Porto de São Sebastião são movimentados produtos como
barrilha, sulfato de sódio, malte, cevada, trigo, produtos
siderúrgicos, máquinas e equipamentos, bobinas de fio de aço e cargas
gerais. O porto é considerado um dos principais portões de saída dos
veículos exportados para países do Mercosul para o México.
Apesar dessa cadeia de possibilidades e do invejável potencial
econômico que representa o complexo localizado na costa do litoral norte
do Estado de São Paulo, a CDSS vem acumulando prejuízos milionários e
aumentando consideravelmente seu passivo trabalhista, o que se configura
como um caso clássico de descaso com o erário público. Sem qualquer
sombra de dúvidas, uma gestão que naufraga há seis longos anos. (fonte: Jornal Portuário)
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