No meio da noite, moradores de um bairro
próximo ao Porto de Santos acordam com um cheiro estranho. Sem saber o
que realmente está acontecendo, ficam preocupados com a possibilidade
daquilo ser algum acidente que comprometa sua saúde. E, em plena
madrugada, ninguém sabe a quem recorrer para ter informações corretas e
orientações sobre o que deve fazer.
Foi
pensando nesta situação, que não é rara na região, que alunos do último
semestre do curso de Técnico em Portos do Senai (Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial) Antonio Souza Noschese, na Vila Mathias, em
Santos, criaram um projeto para ajudar as empresas, população e as
autoridades nos momentos de crise.
Trata-se
do Alertar, um sistema de monitoramento de gases perigosos que
possibilita a rápida a integração entre empresas e autoridades no
momento de um vazamento, além da informação segura, quase que em tempo
real, para a população.
O
projeto é composto por sensores, software de gerenciamento e aplicativo
para celulares e tablets. Os equipamentos captam a presença do gás e
enviam os dados para o servidor, que analisa se a quantidade está dentro
do limite de tolerância.
Caso
algum risco seja detectado, a empresa responsável pelo produto é
acionada, assim como a Defesa Civil, que encaminha a solicitação do
envio de alerta ao sistema de gerenciamento. Assim, as pessoas que têm o
aplicativo recebem a informação sobre qual produto está vazando e a
orientação correta de qual medida de segurança deve ser adotada em caso
de acidente, uma vez que cada composto químico tem um procedimento
específico.
“Inicialmente,
foi pensado em enviar a mensagem diretamente do servidor para a
população, mas como especialistas nos alertaram de que a situação
poderia gerar pânico, colocamos a Defesa Civil para intermediar essa
comunicação pela expertise do órgão”, explica a professora Samanta
Roveri, que orienta o grupo de alunos.
A
ideia é que não sejam apenas avisados os moradores do bairro que possa
ser atingido pelo acidente. “Todos receberiam o alerta, uma vez que
pessoas podem passar pelo local de carro e inalar o produto também”, diz
Samanta.
O software também
permite que o morador cadastrado encaminhe uma mensagem de até 200
caracteres para Defesa Civil, caso sinta-se inseguro ao sentir um odor
diferente em alguma região da cidade.
Para
atender toda a área do Porto de Santos, o estudo dos alunos do Senai
aponta que a cobertura ideal ocorreria com a integração de sete
sensores.
Os
primeiros passos para a formatação do projeto aconteceram no ano
passado, quando a aluna (hoje já formada) Mariana Dominguez Alves,
também analista de sistemas, desenvolveu o aplicativo para celulares.
Além dos alunos, sob orientação de Samanta, o grupo também teve apoio do
professor de Tecnologia da Informação, Leo Billi.
Neste
ano, os alunos participaram da Hackaton Mais, uma maratona de hackers
para promover o desenvolvimento de projetos que visam a transparência de
informações públicas por meio de tecnologias digitais, e ficaram quarto
lugar na competição pela criação do Alertar.
“Dá
muito orgulho saber que vamos deixar um trabalho para ajudar as pessoas
nestes momentos de crise”, diz o estudante Denis William dos Santos, de
18 anos.
A experiência pessoal de dois dos integrantes do
grupo foi determinante para o desenvolvimento do projeto Alertar. Bianca
Nascimento Bernardo, de 17 anos, e Matheus Maia dos Santos, de 18 anos,
conviveram com o cheiro e a fumaça de um vazamento na Localfrio,
empresa que fica na Margem Esquerda do Porto de Santos, em Guarujá, em
janeiro do ano passado.
“Foi um fato muito ruim para quem mora no Guarujá. A
gente não sabia o que estava acontecendo e as redes sociais traziam
várias informações. Postagens traziam até orientações de que as pessoas
deveriam fazer para evitar problemas com o gás, o que depois se
descobriu que, em alguns casos isso só potencializava o efeito do
produto”, conta o estudante.
Bianca também lembra com angústia dos dias que se
seguiram ao vazamento. “A névoa do gás ainda ficou por uns dias na
região em que moro e, mesmo passado algum tempo, a gente não sabia o que
era de fato e o que deveríamos fazer”.
O problema começou após o vazamento de
dicloroisocianúrico durante incêndio de contêineres e o combate às
chamas durou cerca de 50 horas.
A empresa foi multada pela Cetesb, depois que a
fumaça tóxica desencadeada pelas chamas provocou mal estar em pelo menos
250 moradores das cidades de Guarujá, Santos e Cubatão. O vazamento
químico ainda pode ainda ter sido responsável pela morte de três idosas,
que moravam próximo à empresa, em Vicente de Carvalho. (fonte: Tribuna de Santos)
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