Com o maior rebanho mundial e ocupando o segundo lugar em produção e
exportação de carne bovina, o Brasil tem agora o desafio de melhorar a
qualidade do produto, segundo o gerente de Inteligência de Mercado da
Minerva Foods, Leonardo Alencar. "O aumento de produção tem que vir com
ganho de qualidade. Sem ganho de qualidade, há o risco de termos que
comer mais e mais, porque os países lá fora não vão querer comprar nossa
carne".
A Minerva Foods é uma das empresas líderes na América do
Sul na produção e comercialização de carne bovina. Alencar participou
do 5º Fórum de Agricultura da América do Sul, promovido pelo Agronegócio
Gazeta do Povo, em Curitiba.
A qualidade da carne brasileira
voltou a ser discutida desde a Operação Carne Fraca, deflagrada pela
Polícia Federal, que denunciou a comercialização de carne adulterada no
mercado interno e externo. O maior rigor de outros países em relação à
carne brasileira levou recentemente à suspensão das importações de carne
fresca pelos Estados Unidos (EUA). O Brasil havia conseguido abrir esse
mercado após 17 anos de negociação.
"O mercado internacional
conhece a carne do Brasil, sabe que é competitiva e de qualidade, mas o
ponto principal [que faz com que compre a carne brasileira] ainda é a
competitividade, mais que a qualidade", diz o gerente.
O Brasil,
segundo Alencar, está bem posicionado internacionalmente. Em 2016, o
país aparece como o segundo maior exportador, com 19,7% da fatia
mundial, atrás da Índia, com 23,2%. Em terceiro lugar vem a Austrália,
com 18,5%, e em quarto, os Estados Unidos, com 16,3%. Em 2017, o cenário
se mantém mais ou menos constante - a Índia, 19,8%; o Brasil, 19,2%; a
Austrália, 17,3%, e os Estados Unidos, 16,7%.
"O Brasil tem hoje
produto de qualidade e produto sem qualidade, tem produto barato,
bastante competitivo. A gente consegue atender a quase todos os
mercados. Exportamos para mais de 100 países. Os Estados Unidos e a
Austrália exportam para menos de cinco países. O Uruguai, a Argentina,
todos para poucos".
De acordo com o gerente, da Minerva Foods, o
Brasil tem produção bastante heterogênea, o que acaba prejudicando a
imagem do produto. Atualmente, um dos principais concorrentes é a Índia,
que oferece carne barata e de baixa qualidade. "A gente tem que
continuar se diferenciando para não ficar nessa briga com a Índia. Hoje
temos a carne ingrediente, a da Índia, que é consumida misturada em
outros produtos, tem aquela carne que se compra no supermercado e até
mesmo em restaurantes, que é a carne dos EUA, e tem a carne premium, que
é do Uruguai, da Argentina e Austrália. O Brasil precisa caminhar nesse
sentido", defende. Para Alencar, o Brasil consegue atender a nichos
específicos de qualidade, mas a maior produção do país "ainda está longe
disso".
O mercado externo tornou-se atrativo especialmente pelo
câmbio, com o dólar alto e com a queda do consumo no mercado interno,
devido à crise econômica. Alencar diz que o Brasil tem cenário
favorável, primeiro pela diminuição da exportação de outros países.
Entre 2000 e 2017, a Rússia registrou retração de 34,3%; o México, de
34,6%; a China, de 21,2%; e os Estados Unidos, de 4,8%. Como segundo
fator, ele cita o aumento do rebanho. Também entre 2000 e 2017, o Brasil
aumentou em 54,5% o rebanho. Outros países da América do Sul que se
destacam no mercado da carne bovina tiveram aumentos menores: o Paraguai
aumentou em 39,8%; a Argentina, em 6,3%; e, o Uruguai, em 12,2%.
O
Brasil tem hoje, de acordo com dados divulgados pela Minerva, 215
milhões de cabeças de gado e produz 9,5 milhões de toneladas de carne
bovina. A produtividade é considerada baixa quando comparada com os
Estados Unidos, que produzem 12 milhões de toneladas, com 86 milhões de
cabeças de gado. Os números demonstram o potencial de crescimento da
produção. "Temos que continuar aumentando os investimentos e melhorando
produtividade. Agora, isso não pode ser feito de maneira desconexa em
relação à qualidade, ou vamos começar a inundar o mercado com uma carne
que não necessariamente tem a absorção no ritmo em que a gente está
mantendo a produção".
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