O embaixador da Argentina no Brasil, Carlos Magariños, afirmou
nesta terça-feira (14) que a América do Sul precisa passar por algumas
reformas para que os países da região possam ganhar competitividade em
uma economia em que a inovação domina o cenário. Segundo o embaixador,
em qualquer década, cerca de 40 ou 50 países crescem acima de 5% a cada
ano, mas, entre 2003 e 2007, o número chegou a 110 países.
Ele disse que aquele foi um período "anormal" da economia, em que
qualquer um poderia crescer dinamicamente. A partir de 2008, com a crise
financeira, caiu também o crescimento de grandes potências, e os países
emergentes eram provedores de cerca de 60% da taxa de crescimento
global. Agora, porém, as políticas nacionais são mais importantes,
acrecentou.
Para Magariños, Brasil e Argentina precisam trabalhar em uma agenda
ambiciosa de facilitação de comércio e convergência regulatória e
destravar regulações que impedem o fluxo normal de comércio e de
investimentos. "Em muitos terrenos estamos fazendo progresso. Na semana
passada, por exemplo, reunido na Argentina, o Comitê Automotivo chegou a
algumas conclusões preliminares que podem facilitar um acordo."
O embaixador informou que, no próximo mês, haverá uma reunião em
Brasília para a qual será preciso ter um regime comum para o setor
automotivo. "É nisso que os governos de Argentina e do Brasil estão
atuando decididamente, assim como no setor de alimentos e de energia
renováveis”, disse ele, após palestra em um encontro sobre as relações
entre os dois países, organizado pelo Centro Brasileiro de Relações
Internacionais (Cebri) e pela Associação Comercial do Rio de Janeiro.
Magariños destacou que o surgimento de uma nova classe média
significa maior demanda por alimentos e por energia. Por isso, disse
ele, Brasil e Argentina têm interesse em desenvolver uma matriz
energética comum. "O Brasil tem grandes companhias em energia renovável,
e a Argentina está aumentando dramaticamente seu desenvolvimento
energético.” Segundo o diplomata, a Argentina tem a meta de multiplicar
por quatro, até 2018, a produção de energia renovável, que representa
atualmente 2% da matriz energética. Se a previsão for cumprida, daqui a
dois anos, alcançará 8%. E, até 2025, esse percentual deve subir para
20%.
O embaixador argentino ressaltou que o Brasil é um parceiro natural
em projetos de energia solar e eólica e que esta é uma área em que é
possível que a integração se destaque, especialmente porque se relaciona
com questões de meio ambiente. Magariños informou que, na semana que
vem, o ministro argentino de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável,
Sergio Alejandro Bergman, virá ao Brasil.
O ex-ministro de Indústria e Comércio e vice-presidente emérito do
Cebri, José Botafogo Gonçalves, disse que, com a posse do presidente
Mauricio Macri, houve uma mudança de posicionamento, e Brasil e
Argentina perceberam que ganham mais se se unirem para encontrar maior
espaço no comércio internacional e atrair mais investimentos externos.
“O mundo hoje tem excesso de dinheiro, uma parte dos poupadores tem
juros negativos e, se o ambiente for propício, com segurança jurídica e
confiança nas regras do jogo, pode-se atrair enormes capitais, seja da
China, seja do Japão, dos Estados Unidos ou da Turquia, para
investimentos de infraestrutura tanto no Brasil quanto na Argentina."
Botafogo Gonçalves, que foi embaixador do Brasil na Argentina,
destacou que ambos os países precisam de investimentos. E o Brasil, mais
ainda, pelo tamanho que tem e pela obsolescência de seu sistema
logístico. "Ganha-se muito mais quando existe entendimento entre os
países. Este foi o recado que Carlos Magariños deixou aqui e cai como
uma luva nas nossas preocupações no Cebri”, afirmou.
O ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, que é conselheiro do Cebri,
defendeu o reativamento da decisão tomada em 1991 pelo Conselho do
Mercosul, de fazer periodicamente encontros de ministros da Economia e
presidentes de Banco Central dos integrantes do bloco para discussão de
medidas de relacionamento dos países da região. Malan destacou que, na
época, incluindo Chile e Bolívia, chegou-se a um acordo sobre
convergências de ordem macroeconômica que seriam desejáveis.
Maganiños não quis fazer comentários sobre a situação política do
Brasil, mas desejou rápida recuperação econômica ao Brasil. Ele disse
que a Argentina acompanha com atenção os acontecimentos no Brasil e
respeita as instituições do país, "que são sólidas e têm capacidade de
dar as respostas a seus desafios políticos”. Maganiños acrescentou que a
agenda de Macri tem muitos compromissos assumidos e que, por enquanto,
não há prevista uma visita ao Brasil. Segundo o embaixador, nem mesmo
para os Jogos Olímpicos há confirmação a presença de Macri. (imagem: Buenos Aires)
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