As chuvas que interromperam a colheita
nas lavouras de cana-de-açúcar nas regiões Sudeste e Sul do país também afetaram a logística
de escoamento do açúcar. Localizado em uma das áreas mais afetadas
pelas precipitações anormais deste fim de outono, o porto de Santos (SP), que
concentra entre 70% e 80% das exportações nacionais do produto,
registrou atrasos nos carregamentos, aumento de filas de navios e corre o
risco de embarcar neste mês menos do que em maio.
A agência Williams Brazil avalia que os embarques nos terminais da
Baixada Santista em junho fiquem 200 mil toneladas a 300 mil toneladas
abaixo do volume exportado em maio. Pelo levantamento da agência, foram
embarcados pelos terminais da Copersucar, da Rumo e pelo Terminal de
Exportação de Açúcar do Guarujá (Taeg) 1,658 milhão de toneladas de
açúcar no mês passado.
"Os atrasos nas operações estão acontecendo devido ao período
chuvoso de junho", disse a agência, em nota ao Valor. A demora fez o
número de navios na fila no porto de Santos subir de 32 para 43 na
semana encerrada dia 8, o que representa uma média de sete dias de
espera para cada embarcação - um dia a mais do que na semana anterior.
Houve navios que atracaram apenas 20 dias após se aproximarem da costa,
disse Murilo Aguiar, consultor de gerenciamento de risco da FCStone.
O aumento do tempo de embarque é motivo de preocupação para as
tradings, já que muitos contratos de exportação preveem multas diárias
de até US$ 12 mil em caso de atraso no embarque. No entanto, se as previsões climáticas se confirmarem, os atrasos não
se prolongarão pelas próximas semanas, dado que o tempo já está
voltando a se firmar. "É semelhante a situações anteriores. Com a
regularização de chuvas, melhora [o ritmo de embarque]", avaliou Willian
Hernandes, sócio da FGAgro.
Para Aguiar, da consultoria FCStone, é difícil prever se o porto será
capaz de repetir o desempenho de maio. Além de as chuvas terem ampliado
a fila de navios, também interromperam a colheita e a moagem de cana
nas usinas, afetando a capacidade de oferta do produto.
Desde o início de junho já foram perdidos 5,5 dias de moagem, segundo
Gabriel Elias, trader sênior da trading asiática Olam International.
Desde o início da safra, a paralisação das atividades em campo já se
estendeu por 15 dias.
A remuneração das exportações, porém, deve favorecer a recuperação do
ritmo de embarques. Além de haver aperto na oferta nacional, há uma
forte demanda das refinarias estrangeiras, que agora estão contando
basicamente com o açúcar brasileiro em quantidade e qualidade. Esses
fatores têm impulsionado os preços do açúcar para o mercado externo.
O açúcar de altíssima polarização (VHP), que estava sendo negociado
no porto com desconto de 15 pontos em relação ao contrato do açúcar
demerara para julho na bolsa de Nova York no início do mês, foi
negociado ontem com desconto de 2 pontos, de acordo com acompanhamento
realizado pela consultoria FCStone.
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