A sobretaxa anunciada pelo presidente
Donald Trump para proteger o mercado siderúrgico norte-americano vai
colocar o Brasil no centro de uma verdadeira guerra do aço. Hoje, uma em
cada três toneladas exportadas daqui vão para os Estados Unidos. Se as
portas se fecharem, o Brasil terá que competir por novos mercados com
todos os outros países que também serão sobretaxados. E Minas, como
maior produtor, junto com o Rio, tem papel fundamental nesse embate.
Trump revelou que, na semana que vem, seu governo vai impor tarifas de
importação de 25% sobre o aço e de 10% sobre o alumínio. O Brasil está
entre os que mais devem ser afetados: é o segundo maior exportador de
aço aos Estados Unidos, atrás apenas do Canadá.
Para tentar convencer Trump dos riscos dessa artimanha protecionista,
um grupo de empresários das maiores siderúrgicas brasileiras acompanhou o
ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) em
uma missão aos EUA. “Acabamos de chegar de Washington”, disse nessa
sexta-feira (2) o vice-presidente do grupo Vallourec na América do Sul,
Alexandre Lyra.
“Entre os argumentos apresentados ao secretário de
Comércio Exterior de lá está o fato de que a grande importação de carvão
mineral será afetada. Hoje, exportamos US$ 2,4 bilhões de aço para lá,
mas, em compensação, importamos U$ 1 bilhão em carvão mineral que usamos
como matéria-prima, e isso será abalado”, afirmou.
O Brasil
exporta 15,4 milhões de toneladas de aço anualmente, sendo 4,7 milhões
(32,7%) para os Estados Unidos. Minas Gerais e Rio de Janeiro são os
dois principais Estados produtores. Na avaliação de Lyra, que também é
presidente do conselho diretor do Instituto Aço Brasil, “se deixarmos de
vender para eles, teremos que procurar outros mercados”. “A questão é
que, como todos os países serão sobretaxados, todos estarão procurando
novos mercados ao mesmo tempo”, avalia.
Em média, cada tonelada vendida para os EUA sai em torno de US$ 510.
“Se a sobretaxa de 25% proposta pelo governo de Trump passar, teremos
que baixar muito o valor para competir. E ainda corremos o risco de
sofrer processo antidumping, que é medida comum adotada pelos
norte-americanos. O impacto será muito grande e pode tirar grandes
siderúrgicas do mercado”, ressalta Lyra.
No ano passado, os
Estados Unidos importaram 35,6 milhões de toneladas de aço, ou seja 36%
de seu consumo, ou o equivalente a US$ 33,6 bilhões, segundo dados da
consultoria Wood Mackenzie. O anúncio de Trump despertou uma onda de
indignação entre os principais sócios comerciais dos EUA, como Canadá,
União Europeia, China e México, além do Brasil. Todos temem uma grande
guerra comercial. (Com agências)
Donald
Trump afirma que o objetivo da sobretaxa é punir práticas comerciais
que ele acredita que sejam desleais, aumentem o déficit e roubem
empregos norte-americanos.
A Comissão Europeia anunciou nessa sexta-feira (2) que, se os EUA
taxarem aço e alumínio, a Europa pode retaliar com sobretaxação de motos
da marca Harley Davidson, de uísque bourbon e de blue jeans.Essas
medidas equivaleriam a uma taxação de US$ 3,5 bilhões de produtos
norte-americanos.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou
que as tarifas de Trump vão prejudicar a economia do mundo e despertam
preocupações de que outros países possam usar a segurança nacional para
justificar restrições a importações amplas.
O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, disse que
outros países já invocaram questão de segurança nacional para impor
tarifas contra empresas norte-americanas.Ele afirmou que a intenção é
fortalecer a economia dos EUA e gerar empregos.
Já o presidente
Donald Trump recorreu, como sempre, ao Twitter para defender sua ideia.
Escreveu: “Quando um país está perdendo bilhões de dólares no comércio
com virtualmente todos os países com os quais faz negócios, guerras
comerciais são boas e fáceis de ganhar”.
As siderúrgicas instaladas no Brasil estão preocupadas com a
ameaça de taxação em 25% do aço importado pelos EUA. A medida,
anunciada na quinta-feira pelo presidente Donald Trump, será detalhada a
partir da próxima semana e coloca as indústrias em alerta, com
repercussão na Bovespa.
Prova disso é que as ações da CSN, Usiminas e
Gerdau fecharam com forte queda nessa sexta-feira (2), entre os piores
desempenho da bolsa. Os papéis da CSN encerraram com recuo de 5,05%,
cotados a R$ 9,21. As ações da Usiminas caíram 3,9%, a R$ 11,34,
enquanto as da Gerdau baixaram 1,46%, a R$ 16,90 (os papéis da holding
da família caíram 2,38%). Juntas, as três perderam R$ 1,7 bilhão em
valor de mercado.
Procurada, a Usiminas informou que as novas
medidas a serem publicadas pelo governo dos EUA não devem ter impacto
relevante para a empresa, uma vez que o país respondeu por 4% das vendas
externas da companhia no ano passado. A empresa destina apenas 15% de
suas vendas totais ao mercado externo.
O governo brasileiro não descarta recorrer à Organização Mundial do
Comércio (OMC) contra a possível taxa extra que aço e alumínio pagarão
para entrar nos Estados Unidos, disse nessa sexta-feira (2) ao portal G1
o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic),
Marcos Jorge de Lima. Ele destacou, porém, que é preciso aguardar para
ver se a medida, anunciada para a semana que vem, será mesmo efetivada.
O diretor geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevêdo, abandonou sua
imparcialidade tradicional com relação às medidas adotadas por
diferentes governos e declarou que está “claramente preocupado com o
anúncio dos planos dos EUA”.
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