O Tribunal de Contas da União (TCU) entrou no debate sobre a
descentralização dos arrendamentos no setor portuário. O órgão de
controle iniciou na semana passada um levantamento que promete comprovar
que a elevada concentração de poderes no governo federal - sobretudo
para licitação áreas - pode estar por trás dos elevados índices de
ociosidade apresentados pelos portos públicos brasileiros.
Após uma rodada de conversas com governadores, o
ministro Bruno Dantas determinou que a Secretaria-Geral de Controle
Externo do TCU analise a situação dos portos públicos e identifique os
motivos pelos quais 39% das áreas operacionais estavam ociosas em 2014
(número mais atualizado). Se consideradas as áreas "não afetas à
operação", como as destinadas a transporte de passageiros, por exemplo, o
nível de ociosidade sobe para 73%.
O Plano Nacional de Logística Portuária tem a
meta de derrubar a ociosidade de todas as áreas para 10% até 2035, o que
vai exigir uma taxa de crescimento anual significativa das operações.
Ao ministro do TCU, governadores e executivos de portos públicos afirmam
que, sob o atual modelo regulatório, será impossível alcançar o
objetivo.
O argumento principal é de que o governo
federal não tem capacidade técnica para promover os arrendamentos em
ritmo adequado. Na avaliação dos gestores de portos, a Agência Nacional
de Transportes Aquaviários (Antaq) consegue fazer, no máximo, um
arrendamento por ano.
Disputa - A nova Lei dos Portos, sancionada em 2013, concentrou na
Antaq a prerrogativa exclusiva de promover arrendamentos de áreas
portuárias. A medida, tomada no governo da ex-presidente Dilma Rousseff,
tirou poderes das companhias Docas e dos governos estaduais, o que
gerou intensa disputa política.
Um dos maiores críticos da mudança foi o então
governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que pouco tempo depois
anunciou seu rompimento político com o governo petista. Campos, que
morreu em um acidente aéreo em agosto de 2014, tinha no Porto de Suape
uma das suas principais vitrines de sua gestão.
Condições - O atual vice-presidente de Suape, Marcelo Bruto, diz que o
porto teria condições de reduzir a ociosidade de forma mais rápida se
pudesse fazer seus próprios arrendamentos. "Acredito que já poderíamos
ter licitado o segundo terminal de contêineres e algumas expansões
poderiam ter andado mais rapidamente".
O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, também
acredita que a concentração de poderes na Antaq e na Secretaria de
Portos atrapalhou o avanço operacional do Porto de Vitória. Hartung é um
dos líderes do movimento pela mudança na regra.
Para o ministro Dantas, se os estudos comprovarem que a
ociosidade dos portos é causada pela "rigidez do modelo vigente", o TCU
poderá propor mudanças na legislação. "Considero que a existência de um
elevado grau de ociosidade nessas instalações atenta contra o interesse
público", disse ele em comunicação enviada aos colegas de tribunal.
O ministro lembra que, além de fiscalizar obras e políticas
públicas, o TCU tem a prerrogativa legal de auxiliar o Congresso
Nacional na função de legislar.
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