As rodovias e ferrovias brasileiras precisam, nos próximos oito anos,
de mais R$ 132,6 bilhões em investimentos que ainda não fazem parte da
lista de exigências nos atuais contratos de concessão e nem têm recursos
públicos garantidos. O diagnóstico consta do novo Plano Nacional de
Logística (PNL) - um estudo inédito do governo que identifica as
necessidades de melhorias na infraestrutura até 2025.
À semelhança do setor elétrico, que divulga um planejamento com
horizonte de dez anos desde o primeiro mandato do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, a rede de transportes ganhará agora sua própria
organização de longo prazo. O plano será colocado em consulta pública em
outubro para receber contribuições da sociedade, por 30 dias, e deve
ter uma versão definitiva aprovada no fim deste ano. Ficará, conforme
explicam seus idealizadores, como um legado para a próxima administração
federal definir futuras concessões e prioridades na aplicação do
Orçamento.
"Estamos apresentando um diagnóstico e prioridades de investimentos
para a melhoria da infraestrutura e da eficiência logística", diz o
presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), José Carlos
Medaglia Filho. Ele ressalta que, a partir de uma base de dados de
abrangência jamais vista na gestão pública, o plano poderá ser
atualizado regularmente. "Teremos um raio-X da equação custo/benefício
de cada projeto, estudos de alternativas, definição de prioridades, tudo
com justificativas técnicas."
Uma pesquisa de origem e destino contratada pela EPL fez 216 mil
entrevistas com motoristas de automóveis, 310 mil de caminhões e 13,3
mil embarcadores de cargas. O país foi dividido em 558 microzonas para
apontar de onde saíam e onde chegavam as encomendas. Esse mapeamento
permitiu saber como cada fator é considerado na decisão do frete -
custo, tempo, segurança e outros. As projeções de crescimento do volume
de cargas foram realizadas não tomando como base o avanço do PIB como um
todo, mas por setores da economia e regiões geográficas.
Resultado: para atender adequadamente ao aumento da demanda, além de
todos os investimentos no programa de concessões em andamento, seria
preciso apostar em mais dezenas de projetos. Em sua versão preliminar, o
plano conclui que haverá a necessidade de desembolsos adicionais de R$
92,7 bilhões em 13,2 mil quilômetros de rodovias federais ainda mantidas
pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). São
obras como a conclusão da BR-163 até os portos do chamado "Arco Norte",
a duplicação da BR-101 na Bahia e a pavimentação completa da BR-422 no
Pará.
Talvez nem todas possam ser pedagiadas, mas a ideia é buscar soluções
para transferir o maior número possível de estradas ao setor privado,
tendo em vista as grandes dificuldades orçamentárias, segundo o
secretário de Articulação de Políticas Públicas do Programa de Parcerias
de Investimentos (PPI), Henrique Amarante Pinto. "Vamos ver como se
resolve o gargalo de todas as rodovias ainda não concedidas e estudar
como viabilizá-las", afirma.
Amarante reconhece que, com mais 15 meses de mandato, dificilmente se
poderá estruturar novas concessões no governo de Michel Temer - além
daquelas já anunciadas pelo PPI. Mesmo assim, enfatiza a importância do
planejamento. "A intenção é dar uma visão de longo prazo e não deixar o
próximo governo saindo da estaca zero. Talvez seja o legado mais
relevante às administrações seguintes", diz o secretário.
O plano também identifica a necessidade de incluir R$ 37,3 bilhões em
investimentos não previstos nos atuais contratos de concessão das
rodovias. É o caso, por exemplo, de obras na Transbrasiliana (BR-153 em
São Paulo) e na Fernão Dias (ligação entre São Paulo e Belo Horizonte).
Para isso, será necessário negociar aditivos com as concessionárias.
Na área ferroviária, a aposta é tirar do papel três concessões: a
Ferrogrão (entre Mato Grosso e Pará), a Ferrovia Norte-Sul e a Ferrovia
de Integração Oeste-Leste (Fiol). O governo anunciou ainda a prorrogação
das atuais concessões. Para isso, pede investimentos de R$ 25 bilhões
em troca.
Esses desembolsos não estão no Plano Nacional de Logística porque, em
tese, já estão equacionados. Faltam apenas os trâmites administrativos.
O PNL identifica gargalos que vão além das soluções já anunciadas.
Sobraram apenas 649 quilômetros de trilhos que se transformarão em
gargalos até 2025. São dois trechos: um da Ferronorte em Mato Grosso e
outro da Tereza Cristina, concessionária que opera a malha em Santa
Catarina. A intenção da EPL é fazer uma revisão do plano todos os anos.
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