Companhias e entidades ligadas ao setor mineral vêm manifestando publicamente o descontentamento com o aumento dos royalties
do minério, estabelecido por uma medida provisória (MP) assinada em
julho pelo presidente Michel Temer. A divergência com o governo federal
repercute no Congresso Brasileiro de Mineração, evento organizado pelo
Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) que ocorre em Belo Horizonte
até a próxima quinta-feira (21).
A MP 789/2017 alterou as alíquotas da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (Cfem), o conhecido royalty
cobrado das empresas que atuam no setor. As mudanças precisam ser
votadas no Câmara até o dia 28 de novembro para não perderem a validade.
De acordo com o Ibram, mais de 500 emendas foram apresentadas e já há
questionamentos se os deputados conseguirão analisar a matéria no prazo.
A
expectativa da entidade, que representa as principais empresas e
instituições brasileiras que atuam no setor mineral, é convencer os
parlamentares a fazerem mudanças na MP. "Nós fomos pegos de surpresa,
porque nos diziam que as alterações nos royalties ocorreriam
´por meio de um projeto de lei. De repente, veio a MP atropelando o
debate. E o que foi apresentado traz algumas controvérsias do ponto de
vista da indústria", diz Marcelo Ribeiro Tunes, diretor de Assuntos
Minerários do Ibram.
Entre as mudanças previstas na MP, a
alíquota do nióbio (elemento químico usado como liga na produção de aços
especiais e um dos metais mais resistentes à corrosão) e do diamante
sobem de 2% para 3%. A do ouro vai de 1% para 2%, enquanto a dos
minerais da construção civil cai de 2% para 1,5%. Em relação à alíquota
do minério de ferro, é previstos um escalonamento. Ele flutuará entre 2%
e 4% conforme variações de índices do mercado internacional. Antes, o
percentual era fixado em 2%.
De acordo com o Ministério de Minas e
Energia, as alíquotas são ainda bem inferiores às praticadas em outros
países. Na Austrália, por exemplo, os royalties do minério de ferro
chegariam a 7,5% sobre o lucro.
Para Marcelo Ribeiro Tunes, essa
comparação não deve ser feita de forma isolada. Ele diz que, ao olhar a
carga tributária como um todo, se verifica que o custo da mineração no
Brasil é muito alto. O diretor do Ibram lamenta também que especifidades
não tenham sido consideradas para as mudanças. "Nós temos mais de 90
substâncias mineiras e cada um delas há processos e situações
diferentes. Há minerais com mais de uma destinação", argumenta.
Marcelo
considera que o volume de emendas apresentadas por diversos setores
envolvidos no assunto mostra que faltou diálogo. "O potássio, por
exemplo, era taxado em 3%. E isso sempre foi apontado como um problema
porque nós importamos 90% do potássio que consumimos. A proposta era
diminuir para 2%. O deputado Leonardo Quintão, que relatou o projeto
ainda durante o governo anterior, tinha concordado. Na última hora, ele
manteve em 3%. Então há emendas de diversos envolvidos. Empresas que
trabalham com ouro, por exemplo, também sugerem um escalonamento nos
moldes no minério de ferro", conta.
Outra mudança estabelecida
pela MP é que as alíquotas passarão a incidir sobre a receita bruta e
não mais sobre o faturamento líquido da venda do minério. A queixa do
Ibram é que, dessa forma, o royalty incidirá sobre serviços que
não são mineração, como o transporte. A entidade alega que, para
alcançar o mercado chinês, um dos principais compradores, é preciso
vencer a concorrência da Austrália, que está bem mais próxima. Por esta
razão, o aumento dos custos com transporte reduziriam a competitividade
do Brasil.
A MP que alterou as alíquotas dos royalties
do minério não foi uma medida isolada. Junto com ela, o presidente
Michel Temer assinou mais duas MPs. Uma prevê a criação da Agência
Nacional de Mineração (ANM) e a futura extinção do Departamento Nacional
de Produção Mineral (DNPM). A nova estrutura será uma autarquia
especial com autonomia administrativa e financeira e a expectativa é que
ela tenha uma melhor nível de gerenciamento das atividades do setor.
A
terceira MP muda diversos pontos do Código de Mineração, criado nos
anos 1960 e atualizado pela última vez em 1996. São alteradas normas
para a pesquisa no setor, para as concessões, para a aplicação de
multas, entre outros. "É um momento histórico de mudanças pragmáticas
rumo à modernização institucional e regulatória demandada há mais de
três décadas pelo setor", disse o Vicente Lôbo, secretário de Geologia,
Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia.
Presente no Congresso Brasileiro de Mineração representando o ministro,
ele negou que as novas alíquotas da Cfem irão reduzir os investimentos
das empresas no país.
De acordo com Vicente Lôbo, o novo marco
legal da mineração faz parte de um conjunto de medidas que buscam um
novo caminho de desenvolvimento, direcionado para a retomada do
crescimento e para a busca incessante do progresso. "Estamos
reconhecendo que os recursos públicos das empresas estatais são escassos
para financiar novos investimentos no grau necessário e, assim, a
parceria com o setor privado é absolutamente fundamental".
Para o
secretário, a maior vantagem das novas MPs é trazer segurança jurídica,
uma vez que o marco legal anterior levou a abertura de uma série de
ações judiciais envolvendo a mineração. "Este cenário de intensa
judicialização aumenta a desconfiança dos investidores. Daí a
importancia da revisão dos marcos legais." Ele também citou como
benefícios a ampliação do investimento de pesquisa, a geração de novas
jazidas, a diversificação da matriz mineral brasileira, a superação do
passivo processual e a desburocratização do setor.
Clóvis Torres,
diretor-executivo da Vale e presidente do conselho diretor do Ibram,
reconheceu que o governo atendeu algumas demandas históricas do setor,
mas lamentou as mudanças na Cfem. "De uma hora para outra ficou bem mais
caro minerar no Brasil. E não houve a contrapartida para fomentar os
investimentos. Se já estava difícil atrair investimentos externos para o
setor mineral, a perspectiva ficou ainda mais nublada", disse.
O
Congresso Brasileiro de Mineração ocorre em conjunto com o ExpoIbram e
é um dos maiores eventos do mundo com este tema. A previsão é que sejam
mobilizadas 40 mil pessoas. São 450 estandes e há participação de
empresários e empresas de 28 países. A programação inclui uma vasta
agenda de debates.
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