O Ministério Público Federal (MPF) investiga
irregularidades no arrendamento do Terminal de Contêineres (Tecon),
administrado pela operadora Santos Brasil, na Margem Esquerda (Guarujá)
do Porto de Santos. Segundo uma denúncia anônima, houve uma fraude na
composição do consórcio que venceu a licitação. Caso constatado, o fato
pode causar a anulação do contrato de concessão da instalação
especializada na movimentação de contêineres.
O
Tecon foi licitado em 1997 pela Companhia Docas do Estado de São Paulo
(Codesp), a estatal que administra o Porto de Santos. O prazo de
arrendamento inicial era de 25 anos, com vencimento em 2022. A Santos
Brasil garantiu a renovação antecipada de seu contrato e manterá
atividades à frente da unidade até 2047.
O
terminal, que ocupa uma área de 596.715,24 metros quadrados, já recebeu
R$ 3 bilhões em investimentos da Santos Brasil. O valor foi aplicado em
expansões, equipamentos, tecnologia e recursos humanos.
Mas,
de acordo com o procurador da República Thiago Lacerda Nobre, o
contrato pode ser anulado. O motivo é uma irregularidade que está sendo
investigada, após uma denúncia anônima que reuniu documentos e um
vídeo.
Nele, o ex-funcionário do
Opportunity (grupo que controla a Santos Brasil) Arthur Joaquim de
Carvalho foi flagrado revelando um esquema feito para garantir a
participação do Grupo Libra no consórcio que arrendou o Tecon. A prática
era vetada segundo o edital de licitação, porque a Libra já operava no
cais santista. Hoje, a empresa administra os terminais 37, 35 e 33.
“Se
houve aquele tipo de irregularidade, houve uma falha na concorrência,
um desrespeito à licitação e a concorrência está maculada. Estando
maculada, ela é nula. Estando nula, ela não poderia ter existido e
sequer ter sido renovada. Se isso ficar comprovado, o que vai acontecer é
revogar o processo todo de concessão e ser feito um novo processo de
concessão para novos disputantes”, destacou o procurador.
O
MPF procurou, por três vezes, Arthur Joaquim de Carvalho, que, segundo o
procurador, atuou no conselho diretor da Santos Brasil. Na primeira
vez, ele não foi encontrado em sua residência.
Na
segunda tentativa de intimação, Carvalho constituiu um advogado, que
também presta serviços à Santos Brasil, e teve acesso aos autos. Já na
terceira busca, ele apresentou laudos médicos que indicam uma doença
degenerativa grave.
Por
conta disso, segundo o procurador, os trabalhos não avançaram como o
previsto. Mas ele acredita que haverá um andamento mais consistente nas
próximas semanas com o andamento das investigações. A Codesp será
formalmente comunicada sobre o processo para que preste seus
esclarecimentos. O mesmo deve acontecer com a Santos Brasil.
“A
partir a análise documental da denúncia, existem indícios robustos de
que a denúncia guarda referências e verossimilhanças”, destacou o
procurador da República.
Procurado,
o Grupo Opportunity informou que não tem conhecimento sobre a
investigação. Esclareceu ainda que não houve nenhum tipo de
irregularidade na formação e aquisição da Santos Brasil. Segundo a
empresa, Arthur Carvalho não trabalha mais no Opportunity desde 24 de
novembro de 2010.
Em nota, a
Santos Brasil negou irregularidades no processo licitatório. A empresa
esclarece que o consórcio vencedor da licitação foi constituído pelas
empresas 525 Participações S/A, Opportunity Leste S/A, Multiterminais
Alfandegados do Brasil Ltda., Previ e Sistel, não contando com a
participação de qualquer empresa ligada ao Grupo Libra.
A
empresa destaca ainda que todas as cláusulas do edital foram
rigorosamente cumpridas e que, nos seus 20 anos de operação, superou as
obrigações contratuais de investimento. “A Santos Brasil é uma companhia
listada no novo mercado, nível máximo de governança corporativa da
bolsa de valores de São Paulo. Já investiu no terminal mais de R$ 4,5
bilhões a valor presente em tecnologia, equipamentos e recursos
humanos”.
Procurado, o
Grupo Libra informou que não vai se posicionar sobre a denúncia e as
investigações do MPF. Já a Codesp relatou que enviou cópias do processo
licitatório e do respectivo contrato, conforme solicitado para as
investigações.
Nenhum comentário:
Postar um comentário