O Ministério Público Federal (MPF) investiga denúncia de formação de
cartel no segmento de cabotagem. O inquérito apura se companhias de
transporte marítimo e funcionários da Agência Nacional de Transportes
Aquaviários (Antaq) estariam atuando em conjunto comprometendo a
competitividade nesse mercado. A denúncia foi apresentada à Procuradoria
Geral do Distrito Federal (PGR-DF) pela empresa Posidonia Shipping, que
estima prejuízo da superior a R$ 30 milhões devido a “decisões
anti-competitivas” por parte da agência desde 2013, quando a companhia
entrou em operação.
A Posidonia relata excesso de rigor e afirma
que alguns servidores da Antaq foram “cooptados” pelo suposto cartel. A
empresa levou o assunto ao conhecimento do MPF, que encaminhou o tema
para o 5º núcleo de combate à corrupção. O inquérito, aberto em setembro
de 2016, investiga a denúncia de que a agência estaria privilegiando
interesses de empresas membros da Associação Brasileira de Armadores de
Cabotagem (Abac). A defesa acusa os funcionários da agência reguladora
de perseguir e prejudicar a empresa, inclusive com aplicação de multas.
O
objeto principal da denúncia refere-se à resolução 1/2015 da Antaq, que
trata das regras de contratação de navios estrangeiros por empresas
brasileiras. Na visão da Posidonia, a resolução 01/15 foi editada sem
estudo de impacto regulatório, criando reserva de mercado e trazendo
restrições ao afretamento de navios estrangeiros, o que beneficia
armadores consolidados e vinculados à Abac. O argumento é que a norma
contraria a Lei 9.432/97, que estabelece como requisito ao afretamento
de embarcações estrangeiras a inexistência ou indisponibilidade de uma
embarcação brasileira do tipo e porte adequados ao transporte
pretendido.
A Posidonia também reivindica o direito de afretar embarcação estrangeira em substituição ao navio Posidonia Bravo,
de sua propriedade, que está em construção no estaleiro Vitória, em
Triunfo (RS) desde 2015. A defesa diz que, apesar de ter demonstrado que
a construção do navio preenche os requisitos da resolução 1/15, a
empresa não conseguiu obter posicionamento da Antaq sobre a
possibilidade de ter acesso a navios estrangeiros de transporte de
contêineres e carga geral. “Não obstante os diversos requerimentos
enviados à diretoria e à gerência de afretamento, toda a agência se
mantém em silêncio, na mais destrutiva e penalizante omissão”, afirma a
empresa.
A empresa solicitou um parecer jurídico a partir dos
termos das normas e procedimentos administrativos adotados pela agência
reguladora. Enquanto a embarcação é construída, a Posidonia afretou uma
embarcação estrangeira (P Fenix). "Foi justamente nessa etapa
de emissão do CAA (certificado de autorização do afretamento) que se
iniciou uma série de atos no âmbito da Antaq que impediram a emissão do
certificado e a operação da P Fenix", diz o parecer, de abril
de 2016. A Posidonia conseguiu mandado de segurança e o corpo técnico da
Antaq deu parecer favorável à continuidade da construção.
A
Posidonia também afirma que seu mercado de movimentação de contêineres
de importação foi reduzido em quase 85% desde quando entrou em vigor a
resolução 1/2015 da Antaq. A empresa elaborou um quadro comparativo, a
partir de informações da agência, que demonstra os efeitos diretos da
norma no mercado de cabotagem. “A Posidonia foi alijada do seu
tradicional mercado de movimentação de contêineres de importação através
de transbordo e de carga geral, sem falar dos clientes de granéis”, diz
o presidente da empresa, Abrahão Salomão.
Procurados
nas últimas semanas, a Antaq, a Abac e o Sindicato nacional das
Empresas de Navegação Marítima (Syndarma) não comentaram o assunto até o
fechamento desta matéria. Durante palestra na Marintec South America,
em agosto, o vice-presidente executivo do Syndarma, Luis Fernando
Resano, disse que as atividades de navegação no Brasil têm segurança
jurídica no marco regulatório (Lei 9.432/1997) e nas normas da Antaq. Na
ocasião, ele destacou que as resoluções 1 e 5 são muito importantes
para o setor e estabelecem como o mercado precisa ser regulado no
momento. O Syndarma entende que a resolução 1/2015 é uma norma recente e
que não há razões para ela ser revista no momento. Ele ressaltou que a
resolução 1/2015 foi um trabalho aberto e participativo com mais de 600
contribuições.
Resano disse nesse evento que o Syndarma sempre defendeu a regulação e
fiscalização por parte da agência reguladora. Ele defendeu que a Antaq
precisa ser forte e que o governo precisa dar força para a agência. “Tem
que ser forte na regulação e na fiscalização. Defendemos fiscalização
igual para todos e, se a empresa não cumprir, tem que ter punição”,
afirma. Ele acrescentou que a fiscalização é importante para implementar
o que foi regulado e acredita que é um processo que está sempre se
aprimorando.
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