A
cabotagem no Rio Grande do Sul cresceu 55,9% entre 2010 e 2018, chegando a 9,8
milhões de toneladas transportadas. Nesse intervalo, houve picos, como em 2014,
com 11,9 milhões de toneladas. A exploração adequada desse transporte no
Estado, que agora o governo federal quer incentivar, segundo entidades como as
federação das Indústrias (Fiergs) e da Agricultura (Farsul), esbarra na
insuficiência de linhas, preço do frete, infraestrutura e burocracia
portuárias. Também consideram as leis trabalhistas e ambientais muito
rigorosas.
São os mesmos entraves que tornam a
navegação interior, por rios, subutilizada no Estado, avalia Wilen Manteli,
coordenador da Regional Sul da Associação Brasileira dos Terminais Portuários
(ABTP). Ele também é presidente da Hidrovias RS, associação criada em 2018 para
estimular o desenvolvimento das regiões próximas a rios. Fazem parte da
entidade organismos como Farsul, Fiergs, ABTP e representações de outros
setores produtivos do Estado. – Há grande potencial, uma artéria de
desenvolvimento que está interrompida por omissão de governos e sociedade –
entende Manteli.
Ele explica que esses gargalos encarecem a
fabricação, a importação e a operação das embarcações, derrubando a oferta do
serviço. – A concorrência é baixa. Há, também, desinteresse dos empresários
acostumados com o transporte rodoviário. Deixam de fazer uma análise do
serviço. Não sentam com as empresas de cabotagem para discutir o frete –
afirma.
Fábio Avancini Rodrigues,
vice-presidente da Farsul, diz que, à medida que o custo da cabotagem for se
adequando, o Rio Grande do Sul será mais competitivo. – Precisamos ter redução
de preço para entregarmos nosso produto mais barato, para buscarmos insumos
agrícolas em outros Estados com valor mais acessível – argumenta Rodrigues.
Ricardo Portella, diretor da Fiergs,
complementa que é interesse da indústria explorar melhor a cabotagem: – Nossos
modais são ruins, mas o melhor ainda é o caminhão. E isso é inadequado. Não
podemos depender tanto de um único modal e ainda ser ruim.
Superintendente dos Portos do Estado,
Fernando Estima alega que o aproveitamento do serviço reflete a realidade
nacional e que o transporte de cargas, “em algum momento passou a ser visto
apenas para as rodovias”. Ele garante haver entusiasmo do Piratini para o
lançamento do BR do Mar, tratado como “determinante para a modernização da
cabotagem no RS”. – Há uma carência de atualização das normativas. Precisamos
de portarias mais modernas, de simplificação da tributação. A expectativa que
temos é de quebra de paradigmas – diz Estima.
Tanto na cabotagem quanto na
navegação interior, a maior preocupação do Estado é com dragagem e sinalização.
Para execução desses serviços, que podem ajudar a duplicar o transporte
aquaviário, a Superintendência dos Portos do Rio Grande do Sul estuda recorrer
a parcerias público-privadas. Uma possibilidade seria o investidor ficar
responsável por manter os dois serviços em dia e ter, em troca, autorização
para cobrar pelo direito de passagem. Caberia ao BNDES definir o modelo de
negócio. – Precisamos, também, fomentar a médio prazo a criação de distritos
industriais próximos dos rios. Ter, ao longo do Estado, áreas de carga e
descarga de fácil acesso de embarcações e garantir mais concessões de terminais
de uso privativo – aponta Estima.
A perspectiva da Confederação
Nacional dos Transportes (CNT) é de que, com o BR do Mar, haverá migração
gradual para a cabotagem, sobretudo em longas quilometragens. Bruno Batista,
diretor-executivo da CNT, considera esse movimento positivo, com impacto suave
para os caminhoneiros: – Nossa logística precisa ser competitiva em todas as
modalidades, o que não acontece hoje.
Considerada pelo governo federal mais
eficiente, segura e sustentável do que os transportes rodoviário e ferroviário,
a navegação interior se dá, no Rio Grande do Sul, via Lagoa dos Patos, Guaíba e
rios Gravataí, Jacuí, Taquari, Caí e Sinos. Nesse tipo de transporte, que
difere da cabotagem por não usar necessariamente via marítima e portos, a
estrutura mais utilizada fica em Triunfo. O terminal Santa Clara movimentou 2
milhões de toneladas que chegaram ou saíram pelo Rio Caí.
A malha atual do Rio Grande do Sul é
de 776 quilômetros, por onde são transportados, anualmente, cerca de 8 milhões
de toneladas. O Plano Estadual de Logística de Transporte (Pelt), desenvolvido
em 2018, prevê investimento de R$ 36,8 bilhões para que todos os modais
alcancem o equilíbrio até 2039. Desse montante, R$ 400 milhões iriam para o
setor hidroviário, com implantação de 380 quilômetros e manutenção dos 776
quilômetros existentes. Também sugere construção ou remodelação de 13
terminais. Entre as orientações do Pelt, estão a implantação de uma cadeia logística
caracterizada por indústrias erguidas nas proximidades de pontos tri-modais
(ferrovias, rodovias e hidrovias). Outra recomendação é incentivar distritos
industriais junto às hidrovias. (fonte Zero Hora)
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