O volume de chuvas abaixo da média
histórica registrado na Região Centro-Oeste do Brasil desde o ano passado já
ameaça a navegabilidade da hidrovia Paraguai-Paraná, uma das principais vias
fluviais da América do Sul, por onde é transportada boa parte da safra de grãos
do país.
Segundo a Companhia de Pesquisa de
Recursos Minerais (CPRM), a seca deste ano na sub-bacia do alto Paraguai e no
bioma Pantanal é a mais severa dos últimos 22 anos. Fato que, segundo o
presidente do Sindicato Rural de Tangará da Serra (MT) e da Associação
Pró-Hidrovia do Rio Paraguai, Vanderlei Reck Júnior, começa a afetar alguns
trechos dos cerca de 1.272 quilômetros de extensão do rio em território
brasileiro.
“Algumas embarcações já não estão
podendo mais transportar sua capacidade máxima de carga, ou seja, estão tendo
que reduzir o peso para poder navegar sem risco de encalharem nos trechos mais
rasos. Isto acaba afetando os custos do transporte de mercadorias”, afirmou
Reck à Agência Brasil. Otimista, ele diz confiar que a situação, apesar de
séria, não prejudique o escoamento da produção agrícola.
“O próprio histórico da região mostra
que este é um fenômeno climático cíclico. Tanto que, há cerca de 48 anos, a
região enfrentou uma situação pior. Após algum tempo, as coisas voltaram ao
normal”, disse Reck, que encabeça o projeto de reativação do Porto Fluvial de
Cáceres, paralisado desde 2012.
“Estamos finalizando alguns estudos, mas já
está tudo pronto para reativarmos o porto. A estrutura está toda pronta e já
obtivemos quase todas as licenças necessárias. Por isso estamos acompanhando
atentamente à situação do Rio Paraguai, aguardando o nível do rio melhorar para
iniciarmos as operações”, acrescentou Reck.
Ao contrário do empresário, o tenente
João Vitor Goltara, do Centro de Hidrografia e Navegação do Oeste, da Marinha,
afirmou à reportagem que a expectativa é que o nível do rio Paraguai – que,
segundo ele, já está muito abaixo da média histórica para este período do ano –
baixe ainda mais, já que não há previsão de chuvas significativas pelo próximo
mês.
“A situação está muito aquém do habitual
para esta época. Em Ladário (MS), por exemplo, o nível d’água está abaixo de
1,15 metro. Neste mesmo período de 2019, estava em 3,5 metros”, disse Goltara,
explicando que esta situação já era prevista.
“Em 2019, o volume de chuvas ficou
aquém da média histórica. Pelo que estamos vendo, o nível do rio ainda deve
baixar mais um pouco até, pelo menos, o fim de setembro, início de outubro,
quando, historicamente, começa a chover. Só que, normalmente, os efeitos destas
chuvas só vai ser percebido lá para o fim de outubro, começo de novembro”,
acrescentou o tenente, enfatizando que, este ano, a seca na região se antecipou
e está mais severa.
Apesar de eventuais transtornos,
sobretudo para as embarcações de maior calado, a baixa dos rios da região ainda
não provocou nenhum incidente. Responsável por, entre outras coisas, zelar pela
segurança do tráfego aquaviário em rios do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul,
o Comando do 6º Distrito Naval informou que, até o momento, não tem registro de
nenhum acidente associado ao baixo nível d´água nos rios que cortam os dois
estados.
Em boletim de monitoramento divulgado
no último dia 03, a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais também aponta a
“tendência geral de avanço da vazante do Rio Paraguai”. Segundo os técnicos da
companhia, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, já no fim de julho,
todas as 21 estações de monitoramento fluviométrico existentes na Bacia do Rio
Paraguai indicavam que os níveis d’água encontravam-se abaixo do normal para o
mesmo período do ano.
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