Especialistas em infraestrutura liderados pelo Instituto de
Engenharia (IE) lançam nesta sexta-feira, 8, resolução defendendo a priorização das
hidrovias como vetor estratégico de desenvolvimento regional e econômico
no Cone Sul e a criação de uma agência internacional para regular a
atividade na região. O documento será entregue aos candidatos que
disputarão a eleição para presidente no ano que vem.
"Queremos que o modal hidroviário deixe de ser tratado como assunto
burocrático pelos governos e chamar atenção para o fato de que ele torna
os produtos mais competitivos, barateia o custo de logística. Uma
autoridade internacional nessa área pode dar estabilidade de regras,
modernizar o regime de transporte nas hidrovias e ainda atrairia
investimento externo para o desenvolvimento regional", diz Rubens
Barbosa, presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio
Exterior (Irice), ex-embaixador do Brasil em Londres e Washington entre
1994 e 2004.
A formulação de recomendações sobre transporte hidroviário para
governos do Cone Sul (Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai) é
apenas uma das agendas do seminário "A Integração do Cone Sul pelas
Hidrovias - Um Modelo de Gestão", evento que o IE promove amanhã, em São
Paulo, com apoio institucional da Agência Nacional de Transportes
Aquaviários (Antaq), do Irice, do Centro de Estudos Avançados em
Navegação Interior (Ceani) e da Figueiredo Ferraz Consultoria e
Engenharia de Projeto.
Com presença de autoridades, especialistas e empresas do setor de
logística, o evento discutirá o papel do transporte hidroviário como
indutor do desenvolvimento regional, sob o ponto de vista social,
econômico e estratégico. O seminário será dividido em três painéis
principais: configuração atual das hidrovias; experiência europeia na
gestão do sistema de navegação interior; visão dos operadores e
usuários, com participação de representantes da Cargill, Louis Dreyfus,
Amaggi, Bunge e Hidrovias do Brasil.
Segundo o ex-embaixador Rubens Barbosa, o uso da malha fluvial
poderia reduzir entre 40% e 60% o custo da movimentação de carga de
grãos e minérios que é embarcada para exportação. Ele argumenta que "o
descaso crônico" em relação a esse meio de transporte é responsável
pelas maiores dificuldades que existem hoje para o aproveitamento das
hidrovias. Entre elas estão insuficiência de recursos, infraestrutura
precária e conflitos na utilização das águas, como a construção de
hidrelétricas sem eclusas.
A construção de eclusas ou transposição de barragem nas proximidades
da usina de Itaipu que permitam a passagem de navios e barcaças de carga
é, por exemplo, um obstáculo que impede o avanço da Hidrovia
Tietê-Paraná para territórios paraguaios e argentinos, diz Wagner
Ferreira, coordenador de logística de transportes do IE e
consultor-associado da Figueiredo Ferraz.
"A [Hidrovia] Paraná-Tietê, que começa em Piracicaba [interior de São
Paulo], poderia facilmente chegar até Buenos Aires, mas a passagem por
Itaipu ainda é obstáculo. E não estamos falando de grão nem minério, é
uma hidrovia com padrão europeu, com potencial para transportar produtos
de alto valor agregado", destaca Ferreira.
Com mais de 40 anos de experiência, o especialista acrescenta que o
momento para discutir o avanço das hidrovias no Cone Sul não pode ser
perdido. "O Mercosul está às véspera de fechar acordo comercial com a
União Europeia. Pensar numa matriz de transportes equilibrada é
essencial para essa negociação, pode trazer muitas vantagens para os
países que se destacarem, mas estamos longe desse equilíbrio,
infelizmente."
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