A partir de abril do próximo ano, a alíquota do Imposto Sobre
Serviços (ISS) a ser cobrada das atividades portuárias realizadas em
Santos será de 5%. O reajuste proposto pela Prefeitura foi aprovado na
última sexta-feira (8), em segunda discussão, na Câmara Municipal, e
deve ser sancionado nos próximos dias. Agora, resta apenas a análise da
matéria pelo Legislativo de Guarujá, o que deve ocorrer na terça-feira,
em sessão ordinária.
A proposta das prefeituras de reajustar de 3% para 5% o ISS sobre
essas atividades pegou os empresários que atuam no complexo de surpresa.
Segundo as administrações municipais, com o aumento do tributo, haverá
um acréscimo na receita anual de R$ 64 milhões, para Santos, e R$ 40
milhões, aos cofres de Guarujá.
No total, 320 empresas serão afetadas pela medida. Para os operadores
portuários, que eram contrários à proposta, o reajuste do ISS deve
causar a fuga de cargas do cais santista. Além disso, os empresários
apontam riscos de aumento dos custos operacionais e, consequentemente, o
fechamento de postos de trabalho no Porto.
Estas questões foram abordadas por vereadores santistas na última
quinta-feira e ontem, quando o projeto foi aprovado em segunda votação.
Dos 21 parlamentares, três votaram contra: Telma de Souza (PT), Zequinha
Teixeira (PSD) e Chico Nogueira (PT). Já o vereador Fabrício Cardoso
(PSB) se absteve do voto. Os 17 restantes aprovaram o reajuste.
Fabrício Cardoso apresentou uma emenda que previa o escalonamento do
reajuste do tributo pelos próximos cinco anos. A ideia do parlamentar
era que a alíquota passasse de 3% para 3,5% a partir de 2019, para 4% em
2020, para 4,5% em 2021 e para 5% em 2022.
Além disso, Cardoso apontou a necessidade de revisão do reajuste, em
caso de queda na arrecadação do imposto ou redução no número de pessoas
empregadas nos setores portuário e retroportuário da região. “Eu sei que
a Cidade precisa (do recurso), mas eu não consigo mensurar os impactos
disso a longo prazo. Você pode aumentar a arrecadação agora, mas será
que isso se mantém? Por isso, me abstive. Sou a favor do aumento, mas
não na forma que foi proposta pelo governo”, explicou.
Assim como Cardoso, Telma criticou a forma como a questão foi
apresentada pelo Executivo santista. “O primeiro problema foi a falta de
discussão porque a matéria é polêmica. Talvez a pergunta central não
fosse aumentar ou não aumentar. E, sim, como aumentar, conversando com
vários setores, conosco, na Câmara, para aprofundar a discussão e com os
empresários do setor e os trabalhadores, porque isso vai ter uma
consequência séria”.
Chico Nogueira também apresentou uma emenda que, assim como a de
Cardoso, foi derrubada pelos demais parlamentares. O vereador pediu que
os serviços de Praticagem, de apoio marítimo e dos armadores fossem
retirados da lista de atividades que tiveram o ISS reajustado. Assim, a
alíquota deles permaneceria a mesma, em 3%. “A certeza é que a gente vai
perder cargas para outros portos e é questão de tempo. O Porto de
Santos já é caro e vai ficar ainda mais”.
Na última quinta-feira, cinco entidades empresariais ligadas ao setor
portuário apresentaram ao prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa
(PSDB), uma contraproposta ao projeto de lei que prevê o reajuste do
ISS. Os executivos pediram que a alíquota fosse reajustada para 4% a
partir de julho - e não para 5%, como garantiu a Administração
Municipal.
O Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo
(Sopesp), a Associação Comercial de Santos (ACS), a Associação
Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Empresas Transportadoras
de Contêineres (ABTTC), a Associação das Empresas do Distrito Industrial
e Portuário da Alemoa (AMA) e a Associação Brasileira de Terminais de
Líquidos (ABTL) participaram do encontro.
O prefeito assumiu o compromisso de mensurar os impactos do reajuste
do ISS a partir de abril. Para isso, a ideia é criar um grupo de
trabalho, que vai avaliar dados como movimentação de mercadorias e a
atividade das empresas portuárias instaladas na Cidade.
A aprovação do novo percentual do Imposto Sobre Serviços (ISS) para
as atividades portuárias, em Santos, foi encarada com preocupação pelos
empresários do complexo marítimo. O temor é a fuga de cargas da região e
o acúmulo de prejuízos, que podem causar o fechamento de postos de
trabalho locais.
Para o diretor-executivo do Sindicato das Agências de Navegação
Marítima do Estado de São Paulo (Sindamar), José Roque, a sensação de
quem investe no Porto de Santos e instala suas empresas na Cidade é de
frustração e desânimo. Para ele, a maior preocupação, agora, é com a
concorrência com os portos catarinenses e o vizinho São Sebastião.
“O Porto de Paranaguá (PR) está batendo recordes de embarques de
veículos e a tendência é aumentar o volume de cargas naquele porto. Os
portos de Itapoá, Itajai, São Francisco do Sul e Imbituba são escalas
utilizadas para baldeação de cargas – hub port – o que já vinha
demonstrando a fuga de cargas de Santos pelas vantagens oferecidas em
âmbito fiscal”, afirmou.
Para o presidente da Associação das Empresas do Distrito Industrial e
Portuário da Alemoa (AMA), João Maria Menano, aumentar impostos em um
momento de crise e em um suposto início de recuperação econômica “vai
contra tudo” que a comunidade espera do poder público. “A arrecadação no
País tanto para pessoas físicas quanto jurídicas é quase um confisco,
visto o que se tem de retorno sobre esses impostos e a capacidade de
pagamento que têm atualmente os cidadãos e as empresas”, destacou
Menano. “Se há um problema na distribuição dos impostos recolhidos por
todos os cidadãos e empresas pela questão do pacto federativo, quem tem
que lutar para mudar esta equação são os políticos que estão em grande
quantidade nas mais diferentes esferas municipais, estaduais e federais”
, completou.
O presidente da Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e
das Empresas Transportadoras de Contêineres (ABTTC), Martin Aron,
também lamenta a decisão da Câmara de Santos. Segundo o executivo, o
Porto, que até em épocas de crise bate recordes, saberá enfrentar mais
esse desafio. “No momento em que a economia dá tímidos sinais de
recuperação econômica, esse aumento de imposto sobre a operação
portuária é, sem dúvida, um retrocesso. A teoria e a prática econômica
demonstram que aumento de tributos não significa, necessariamente,
aumento de arrecadação”.
O diretor-executivo da Associação Comercial de Santos (ACS), Marcio
Calves, também expressou o descontentamento da entidade. “A ACS é contra
qualquer tipo de aumento de imposto, principalmente em função do quadro
econômico nacional. Nós esperamos que esses recursos, que serão
arrecadados com este aumento, proposto pelo prefeito de Santos Paulo
Alexandre Barbosa e aprovado pela Câmara, sejam revertidos em benefício
da população, da Cidade e do setor portuário como um todo”.
Em nota, o Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de São Paulo
(Sopesp) lamentou “a decisão tomada pela Prefeitura de Santos e a falta
do diálogo do Executivo municipal com relação à classe empresarial dos
operadores portuários e das demais atividades do setor sobre a elevação
unilateral de 67% na incidência do Imposto Sobre Serviços de Qualquer
Natureza (ISS), passando de 3% para 5%”.
“Definitivamente não é o perfil de gestão pública que o segmento
empresarial e a comunidade portuária esperam. Aumentar tributo é a forma
mais simples e imediata de cobrir os gastos públicos em detrimento
daqueles que de fato propiciam sustento para milhares de famílias. Com
essa medida, mais uma vez nos deparamos com atitudes que limitam o
desenvolvimento e o crescimento da atividade portuária em prol do
sistema público”, informou o órgão.
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