A escala de navios previstos para carregar grãos no Brasil em
fevereiro revela um forte aumento nos embarques de soja, que podem
dobrar ante o mesmo período de 2016, em meio a um início acelerado de
colheita e boa demanda pelo produto do maior exportador global. A programação nos portos aponta atualmente embarques de 4,39 milhões
de toneladas de soja em fevereiro, incluindo também alguns navios que já
previstos para março, uma alta de 97 por cento ante a escala de 12
meses atrás, segundo dados da Wilson Sons Agência Marítima compilados
pela Reuters.
"Isso é reflexo da forte demanda internacional e uma combinação de
uma colheita correndo rápida e normal e uma ausência de atrasos
significativos nos embarques de soja", disse o diretor da corretora
Cerealpar no Brasil e consultor do Kordin Grain Terminal, em Malta,
Steve Cachia. Além disso, a soja não tem enfrentado este ano concorrência nos
portos com milho, produto que disputou espaço com a oleaginosa nos
terminais no mesmo período do ano passado.
Números preliminares das exportações de janeiro do Brasil já
indicaram um início mais forte dos embarques de soja na safra 2016/17,
enquanto no caso do milho a atividade exportadora está mais fraca, com
uma menor oferta neste início de ano. Segundo os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), os
embarques de soja em janeiro somaram 29,8 mil toneladas/dia nas
primeiras três semanas, ante 19,7 mil toneladas/dia em janeiro de 2016,
enquanto as exportações de milho no mesmo período estiveram 73 por cento
menores.
Pouco mais de 4% de toda a produção nacional de soja já foi
colhida e segue para portos e indústrias do Brasil, conforme
levantamento divulgado na sexta-feira pela consultoria AgRural. "A colheita da soja foi um pouco antecipada, o que foi ao encontro da
alta procura dos compradores externos, uma vez que já nos meses de
novembro e dezembro os embarques de soja eram vendas antigas e somente
resquício da safra (de 2016)", disse o analista comercial sênior da
Wilson Sons Agência, Thiago Pierry.
Apesar do crescimento da previsão de embarques de soja nesta época, o
Brasil não deverá ter dificuldades operacionais e de logística, já que
há uma grande oferta de caminhões e diversos terminais portuários foram
inaugurados ou elevaram capacidade de movimentação nos últimos anos.
No caso do milho, o cenário é completamente oposto ao da soja, com previsão baixíssima para embarques a partir de fevereiro. O levantamento aponta previsão de navios com 207 mil toneladas para o
próximo mês, queda de 88 por cento ante o mesmo período do ano passado.
"As tradings não possuem grandes ofertas de milho nos estoques, já
que muitas delas liquidaram no mercado doméstico e perderam muitos
contratos com a quebra (de safra de 2016)", disse o analista de grãos
Aedson Pereira, da IEG FNP. No fim de 2015 e no início de 2016 o Brasil embarcou grandes volumes
do grão, favorecido por uma grande safra em 2015 e por um câmbio
bastante favorável às vendas internas. A situação reverteu-se ao longo
do ano passado, quando a forte saída para o exterior somou-se a perdas
na safra de inverno devido a um clima adverso.
"Além da menor disponibilidade de milho, os preços domésticos
continuam como principal entrave à venda externa do cereal brasileiro...
Mesmo com a pressão baixista ocasionada pela chegada da colheita da
primeira safra (verão de 2016/17), os patamares de preço não são
competitivos no exterior", destacou Pereira.
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