O Ministério dos Transportes, por falta de segurança juridica, recuou e
desistiu de atender a proposta de empresários do setor portuário de
adaptar para o prazo de até 70 anos os contratos antigos. Com isso, o
ministério acatou a posição de técnicos da Casa Civil, que eram contra a
prorrogação dos contratos, conhecidos como pré-1993. São contratos que
não foram licitados e cujos prazos estão vencidos.
A possibilidade de dar mais tempo aos pré-1993 consta de uma minuta
do Decreto dos Portos, mas deve ser retirada da versão que o governo vai
baixar para alterar a atual regulamentação da Lei dos Portos, de 2013. O
objetivo é desburocratizar e atrair investimentos. Entre os principais
pontos, está a fixação do prazo de 35 anos para as futuras concessões,
com renovações sucessivas até o limite de 70 anos. A minuta foi feita
por um grupo de trabalho que reuniu Ministério, Antaq (agência
reguladora) e associações do setor.
"Isto já está dirimido. Nós concordamos, não há possibilidade
jurídica de se vencer. Esses contratos não têm licitação, o ideal para
eles é realmente relicitar", disse o ministro Maurício Quintella, em
entrevista ao Valor, na qual falou sobre portos, aeroportos, rodovias e
ferrovias. Existem pelo menos 39 contratos nessa situação e podem ser
alvo de novos pedidos de liminares.
A exigência de licitação para o privado explorar área portuária veio
com a primeira lei do setor, de 1993. A lei fixou prazo máximo de 25
anos, renovável uma vez por igual período, e determinou que contratos
antigos fossem adaptados em até 180 dias, o que o governo não fez, dizem
as empresas. Por isso elas negam que os contratos estejam vencidos.
Algumas estão nas áreas há 40 anos.
Mesmo acatando a posição da Casa Civil em relação aos pré-1993, o
Ministério dos Transportes ainda defende a adaptação, para até 70 anos,
dos contratos vigentes - os pós-1993. A ideia encontra resistência no
governo por ferir o princípio que vincula o contrato ao edital.
"A primeira análise [da Casa Civil] veio com uma posição divergente
por parte da área jurídica. Mas não foi fechada nenhuma porta, ainda
estamos conversando", disse. Na semana passada o setor apresentou novos
argumentos, com pareceres de advogados e juristas.
O governo tem uma lista de 15 áreas com potencial para novos
arrendamentos - em Santos e Manaus - que já foi apresentada ao Programa
de Parcerias de Investimentos (PPI). Falta definir quais têm condições
de serem leiloadas.
A expectativa em relação ao leilão dos aeroportos de Salvador,
Fortaleza, Porto Alegre e Florianópolis, marcado para março, é a "melhor
possível". Segundo Quintella, interessados nos quatro terminais têm
procurado o governo. Ele prevê sucesso da licitação, embora os estudos
de demanda sejam de 2015 e reflitam, por isso, uma expectativa
pré-deterioração econômica.
Nesta semana o governo deve definir um mecanismo de seguro sobre a
parcela da outorga variável desses aeroportos, para mitigar o risco
cambial - essa, sim, uma questão que, se não equacionada, pode afastar
interessados. Com o mecanismo, a tendência é que os interessados busquem
recursos lá fora, já que a fatia de financiamento pelo BNDES será menor
nesta rodada.
Está descartada, disse o ministro, a licitação de novos aeroportos
sem antes definir a situação da Infraero. A perspectiva é que se criem
três ou quatro subsidiárias da companhia. Uma de serviços, outra de
aeroportos (focada nos maiores que a estatal opera sozinha, como
Congonhas), uma terceira de participações e uma quarta de navegação
aérea - esta ainda em estudo mais embrionário.
Em relação a rodovias, há 15 Propostas de Manifestação de Interesse
(PMIs) para licitação de novos trechos rodoviários. A viabilidade dos
projetos será discutida no âmbito do PPI, para definição de quais têm
viabilidade de serem concedidos.
Sobre concessões existentes que pedem prazo adicional para amortizar
investimentos não previstos no contrato, o ministro disse que o governo
"ainda está conversando com os órgãos de controle para tentar construir
essa possibilidade". Em relação à Nova Dutra, da CCR, que propõe
investir até R$ 3,5 bilhões em troca do reequilíbrio de prazo por mais
17 anos, disse: "Seriam investimentos de bilhões, fundamentais para o
governo, país e rodovia".
As três ferrovias que constam da primeira etapa de concessões do PPI,
Ferrogrão, Fiol e Norte-Sul, têm sido alvo de interesse de investidores
chineses, russos, espanhóis e brasileiros. Mas uma das questões
levantadas por eles é a necessidade de uma regulação clara para o
direito de passagem na Norte-Sul, cujo trecho que vai a leilão está
entre as partes administradas por duas concessionárias: VLI e Rumo.
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