Os estaleiros nacionais estão articulando uma frente reunindo a
indústria, políticos e trabalhadores em defesa do conteúdo local nas
encomendas da indústria de petróleo. Uma das estratégias do Sindicato
Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore
(Sinaval) é conseguir o apoio de prefeitos de cidades que dependem de
estaleiros ou têm fornecedores ligados à indústria de petróleo para a
ação que a entidade move, na Justiça Federal, contra a Petrobras. Na
ação, o Sinaval tenta impedir a estatal de contratar plataforma para
Libra, no pré-sal, sem os requisitos de conteúdo local exigidos para o
campo.
No ano passado, a Petrobras fez pedido de isenção ("waiver") do
conteúdo local para as unidades dos campos de Libra e Sépia, no pré-sal,
à Agência Nacional do Petróleo (ANP). Ontem, a ANP informou que abre, a
partir de hoje e por 30 dias, consulta pública para receber informações
para análise do pedido de isenção de cumprimento de conteúdo local da
plataforma de Libra. Uma audiência está prevista para 30 de março. "O
objetivo da ANP, com a realização da consulta e da audiência, é garantir
a transparência e a participação de todos interessados no processo
decisório", disse a ANP.
O pedido de isenção das obrigações de conteúdo local da unidade de
Libra foi apresentado pela Petrobras em 30 de agosto de 2016. "Desde
então, a ANP vem analisando a documentação enviada pela empresa tendo,
inclusive, solicitado informações adicionais para a instrução do
processo. Após análise das informações recebidas, a área técnica irá
preparar uma recomendação à diretoria colegiada, que decidirá sobre o
pedido." A agência disse que a Petrobras encaminhou todas as informações
solicitadas até o momento.
Sobre Sépia, acrescentou: "A cláusula oitava do contrato de cessão
onerosa prevê a revisão de alguns itens contratuais, entre eles, os
percentuais mínimos de conteúdo local. Tendo em vista que esse processo
de revisão encontra-se em andamento, a ANP não fará a análise do pedido
de isenção referente à Sépia até sua conclusão."
Ontem, o prefeito de Angra dos Reis, Fernando Jordão (PMDB), disse ao
Valor que tem interesse de entrar na ação que tramita no TRF I, em
Brasília, movida pelo Sinaval, como parte interessada. O receio de
Jordão é de aumento do desemprego no município, que abriga o estaleiro
Brasfels, um dos maiores do país. O Brasfels tem cerca de 3 mil
trabalhadores e parte dessa mão de obra corre o risco de ser dispensada,
se o estaleiro não tiver novas encomendas. "Subscrevo a ação do Sinaval
[relacionado ao "waiver" de Libra]", disse Jordão.
O prefeito defendeu, porém, que os estaleiros trabalhem para reduzir
custos nas obras em uma conversa que teve na manhã de ontem com
Ariovaldo Rocha, presidente do Sinaval. Rocha disse que o setor tem hoje
38 mil empregos diretos, queda de 65% em relação aos 83 mil postos de
trabalho de dezembro de 2014. E disse que o Rio de Janeiro é um dos
maiores prejudicados pela crise no setor.
Em Brasília, a deputada federal Soraya Santos (PMDB-RJ) disse que
articula um movimento na Câmara dos Deputados em defesa do conteúdo
local.
Os sindicatos de metalúrgicos também se aliaram ao Sinaval nessa
discussão. O Sinaval entende que, se for permitido à Petrobras rever
regras de conteúdo nacional para as primeiras unidades de Libra e Sépia,
vai se "abrir a porteira" para que, no futuro, outras plataformas para
esses campos sejam encomendas no exterior, sem conteúdo local.
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