O analista financeiro Richard Ward, autor de um relatório diário sobre o
mercado mundial de contêineres, apresentou um balanço anual de 2015, no qual
menciona a derrocada dos fretes marítimos, as grandes fusões e acordos e
o comportamento das ações de mercado das principais empresas de
navegação.
Ward disse que com as baixas constantes nas
rotas entre a Ásia e o Noroeste da Europa, e a Costa Leste dos Estados
Unidos, as companhias marítimas têm claramente demonstrado pouca
propensão a adotar novas medidas para a estabilização das tarifas, o que
vai gerar resultados previsíveis.
Segundo ele, especialmente no mercado
Ásia – NWE, o ano começou com mais lamúria do que atitude, já
que o costumeiro aumento nas tarifas que antecede o ano novo chinês não
chegou a se materializar em escala significativa. Os poucos aumentos
que, de fato, foram aplicados, caíram rapidamente, uma situação que se
repetiu durante todo o ano, apesar de inúmeras tentativas, também
fracassadas, de imposição de tarifas com excedentes (GRIs).
Para o mercado norte-americano, no entanto, o relatório mencionou uma
história diferente, com o mercado influenciado por uma disputa de
contratos entre a PMA (Pacific Maritime Association) e o sindicato de
portuários ILWU (International Longshore and Warehouse Union), que levou
a problemas sérios de congestionamento.
O caos logístico resultante dos
contenciosos levou as tarifas da costa leste a disparar para acima de
US$ 5 mil por FEU em fevereiro de 2015, uma situação que durou pouco, já
que, ao fim do mês, as tarifas da costa leste já estavam em queda
livre, chegando a cair 42% no fim do segundo trimestre. Assim
permaneceram as tendências durante todo o restante do ano, até chegar à
marca atual constante de irrisórios US$ 1.506 por FEU (dados de 11 de
dezembro de 2015).
O mercado em baixa, porém, não se restringiu à costa leste Americana.
Com a impossibilidade de aplicar GRIs, a rota entre a Ásia e o noroeste
europeu viu as tarifas chegarem a cair para até US$ 205 por Teu,
conforme registrado em junho. As quedas foram generalizadas:
Mediterrâneo, Golfo Pérsico, Austrália, América do Sul, Coreia e Sudeste
Asiático, refletindo a combinação de recessão e superoferta que vitimou
o mercado neste ano.
No mercado de transitários – FFA (Forward Freight Agreement), no início
do ano, os contratos de 2105 estavam baseados no valor de US$ 1.150 por
Teu, uma tarifa que, mais tarde, se mostraria significativamente mais
alta do que a média anual. Transportadores que não conseguiram manter
medidas de precaução contra a oscilação de fretes perderam a
oportunidade de garantir uma parcela significativa do faturamento,
ficando, portanto, completamente expostos às quedas implacáveis que
seguiram a partir de então.
No que diz respeito às grandes fusões, o relatório de
Ward destacou que 2015 foi marcado por grandes desdobramentos, principalmente no
que se refere à antecipada consolidação do mercado. As primeiras
notícias sobre a potencial fusão entre as duas enormes empresas públicas
chinesas COSCO e CSCL surgiram no meio do ano, porém a negociação logo
foi suspensa por quatro meses. Em um movimento aparentemente na
defensiva, para ganho de posição entre concorrentes, a CMA CGM anunciou a
aquisição da deficitária APL, em uma operação que a empresa francesa
justificou para o mercado com uma frase amplamente disseminada: “o ganho
de escala é cada vez mais crucial”.
Os investidores ainda se mostram cautelosos quanto à fusão da COSCO com a
CSCL, uma vez que as ações da COSCO caíram recentemente a um índice
notável de 28%, em decorrência da suspensão da proibição de transações
comerciais (trading ban). "No entanto, a extensão das sinergias e a
otimização de custos que as duas fusões poderão alcançar, somente o
tempo poderá nos dizer", ressalvou.
Enquanto isso, ainda no mercado de ações, Ward relembrou que a alemã
Hapag-Lloyd enfrentou um período de ofertas públicas bastante acanhadas,
e precisou revisar o valor das ações, que flutuavam de EUR 23 a 29,
passando-as para EUR 20 a 22, além de estender o período da oferta. O
timing, de certa forma infeliz, a maior companhia de navegação, Maersk
Line, divulgou ter reduzido suas estimativas anuais de lucro em US$ 400
milhões (passando para US$ 3,4 bilhões) foi provavelmente o estopim para
conter o apetite dos investidores nas ações das companhias marítimas em
geral.
A previsão de Ward para 2016 é que o ano não parece oferecer perspectivas muito
melhores, principalmente com os fretes oficialmente divulgados a US$ 600
por FEU na rota Ásia – NWE. De acordo com o relatório, não há dúvidas
de que a situação tende a pressionar o mercado atual, assim como
qualquer tentativa future de aumento de tarifas. Com as tarifas FFA
atualmente estabelecidas a cerca de US$ 1.000 a 1.100 por FEU,
companhias em busca de alguma certeza em 2016 poderão se ater a esses
parâmetros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário