’’O mundo novamente precisa da indústria naval para lidar com o mar agitado das crises”, disse a secretária-geral da UNCTAD, Rebeca Grynspan, dirigindo-se aos participantes antes da cúpula anual do Fórum Marítimo Mundial. Falando em um estaleiro da Marinha de Nova York, Grynspan disse que o transporte marítimo está enfrentando um "momento histórico de crise". De acordo com suas análises, a guerra na Ucrânia interrompeu as principais rotas marítimas e cadeias de suprimentos.
Também desencadeou uma crise global de alimentos, energia e financeira que causou preços recordes e pode levar dezenas de milhões de pessoas a mais em todo o mundo à fome e à pobreza este ano. O transporte marítimo tem um papel chave que desempenhará para abortar o golpe, já que os navios transportam mais de 80% dos bens comercializados no mundo, incluída a maoría dos alimentos, a energía e os fertilizantes necesessários neste momento.
Grynspan elogiou o trabalho já feito para ajudar a carregar e transportar alimentos e fertilizantes da Ucrânia no âmbito da Iniciativa de Grãos do Mar Negro, negociada pelas Nações Unidas e pela Turquia. “Eu vi você navegar literalmente em águas minadas. Eu vi você trabalhar em portos no meio de uma zona de guerra”, disse ele. “Há mares mais agitados à frente e precisaremos de sua coragem mais do que nunca”, acrescentou.
Globalmente, um recorde de 345 milhões de pessoas, em mais de 80 países, enfrenta atualmente insegurança alimentar aguda, segundo a ONU. Em 12 de setembro, a Iniciativa de Grãos do Mar Negro havia permitido a movimentação de mais de 2,7 milhões de toneladas métricas de grãos e outros produtos alimentícios dos portos ucranianos de Odessa, Chornomorsk e Yuzhny (Pivdennyi).
A ONU observa que todos os grãos que saem dos três portos ucranianos beneficiam as pessoas necessitadas, pois ajudam a acalmar os mercados e limitar a inflação dos preços dos alimentos. A iniciativa está conseguindo um de seus principais objetivos: reduzir os preços dos alimentos. O Índice de Preços de Alimentos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação mostrou quedas percentuais de dois dígitos no custo de óleos vegetais e cereais em julho e uma queda adicional de 1,9% em agosto.
"A Iniciativa de Grãos do Mar Negro e o acordo para acesso irrestrito a alimentos e fertilizantes russos são agora conceitos comprovados", disse Grynspan. "Mas isso é apenas uma fração do que pode ser feito e do que o mundo precisa para reduzir os preços a níveis acessíveis para os países em desenvolvimento, ou para que o mundo tenha fertilizante suficiente para se alimentar no próximo ano." Mesmo com a queda dos preços mundiais dos alimentos, os preços domésticos em muitos países em desenvolvimento continuam a subir à medida que suas moedas lutam para competir com um dólar americano mais forte, alimentado pelo aumento das taxas de juros.
O secretário-geral da UNCTAD disse que o preço do fertilizante, atualmente três vezes mais alto que a média da década anterior, é particularmente preocupante, pois é o principal custo do insumo para muitos pequenos agricultores em todo o mundo. Se os agricultores não puderem pagar ou não tiverem acesso aos fertilizantes de que precisam, não poderão plantar suas colheitas.
“Já perdemos uma temporada de plantio na África Ocidental por causa disso”, disse Grynspan. Se o mercado de fertilizantes não se estabilizar, todo o sistema de abastecimento de alimentos pode estar em apuros. “A crise de disponibilidade de alimentos que estamos enfrentando hoje pode se transformar em uma crise de disponibilidade de alimentos no próximo ano devido ao problema dos fertilizantes se não intervirmos”, disse Grynspan. “Precisamos de mais navios. Precisamos de navios maiores”, disse ele. "Precisamos de você. O mundo precisa de você", afirmou e encerrou afirmando que "os mares estão agitados. Vamos enfrentá-los juntos".
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