Mais de 70 mil veículos elétricos importados da China permanecem não vendidos nos portos do Brasil, país que era considerado um mercado estratégico para as montadoras asiáticas. A Bloomberg indicou que este cenário reflete os desafios crescentes de um setor em transformação, afetado por mudanças nas políticas tarifárias, um mercado em desaceleração e desafios estruturais de infra-estruturas.
O Brasil, o sexto maior mercado automotivo do mundo, atraiu inicialmente fabricantes chineses de veículos elétricos e híbridos graças aos incentivos fiscais implementados na última década. Estas medidas eliminaram a tarifa de 35% sobre as importações deste tipo de automóvel, permitindo que empresas como a BYD Co. e a Great Wall Motor Co. dominassem um segmento até então negligenciado pelos fabricantes nacionais.
A volta das tarifas, contudo, promovida pelo governo Lula da Silva em janeiro de 2023, começou a mudar o panorama. O imposto, que atualmente é de 10% e aumentará progressivamente para 35% em 2026, responde às pressões da indústria automóvel local, que procura competir em condições mais equilibradas com os modelos chineses.
Além disso, este reajuste tarifário coincide com uma desaceleração nas vendas de veículos elétricos. A importância do Brasil nas estratégias globais Para fabricantes como a BYD, o Brasil representa um mercado crucial na sua expansão internacional. A empresa, que espera atingir vendas globais de mais de 100 mil milhões de dólares em 2024, considera este país o seu maior mercado fora da Ásia.
Desde que entrou no mercado brasileiro, em 2021, a BYD oferece modelos com preços competitivos, como o seu carro de menor custo, que é vendido por US$ 19.100, menos do que muitos veículos de combustão interna concorrentes. Isso permitiu que ela conquistasse rapidamente uma parcela significativa do mercado.
A Great Wall Motor também tem se destacado como um dos principais players chineses no país, projetando vendas globais de US$ 28 bilhões em 2024. Ambas as empresas decidiram investir na produção local para fazer frente às novas tarifas e garantir sua posição competitiva.
A BYD anunciou que abrirá sua primeira fábrica de veículos elétricos fora da Ásia em março de 2025, investindo US$ 1,1 bilhão nas antigas instalações da Ford no Brasil. A fábrica terá capacidade para fabricar 300 mil carros por ano e será fundamental para a expansão de sua frota, que incluirá novos modelos, como a primeira picape híbrida disponível no mercado brasileiro. Além disso, pretende dobrar o número de concessionárias no país.
A Great Wall Motor, por sua vez, iniciará operações em maio de 2025 numa antiga fábrica da Daimler, com um investimento de 1,6 mil milhões de dólares na próxima década. Outras marcas chinesas, como Chery Automotive Co., GAC, NETA e Zeekr, também anunciaram planos de expansão no Brasil, impulsionadas por restrições comerciais em mercados como Estados Unidos e Europa, onde as tarifas atingiram níveis de até 100% para veículos. elétricos fabricados na China.
A volta das tarifas não é o único fator que pressiona os fabricantes chineses. Empresas estabelecidas no Brasil, como Volkswagen, Toyota e Renault, intensificaram seus investimentos em modelos híbridos e elétricos, com foco em soluções adaptadas ao mercado local. Essas iniciativas incluem veículos com motores flex que combinam eletricidade e combustíveis como o etanol, produzido a partir da cana-de-açúcar brasileira.
No total, essas empresas anunciaram investimentos de mais de US$ 20 bilhões até o final da década, com projetos que incluem novas tecnologias híbridas e expansão da infraestrutura produtiva. Da mesma forma, a Stellantis, dona de marcas como Fiat e Jeep, planeia lançar veículos elétricos desenvolvidos em colaboração com o fabricante chinês Leapmotor em 2025.
Apesar dessas medidas, a adoção em massa de veículos elétricos no Brasil enfrenta barreiras significativas. A falta de infraestrutura de carregamento num país grande torna difícil a utilização destes carros em viagens longas. Segundo Ricardo Bastos, diretor de relações governamentais da Great Wall Motor no Brasil, ampliar a rede de postos de recarga será essencial para que as vendas cresçam de forma constante.
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