O aumento da eficiência dos gastos públicos pode levar a uma economia
fiscal anual de até 7,9% do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos
os bens e serviços produzidos no país. A conclusão é da Organização para
a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que fez uma série de
recomendações ao governo brasileiro. O Relatório Econômico da OCDE de 2018 sobre o Brasil foi lançado hoje (28), em Brasília.
A
OCDE avalia que “os resultados orçamentais deterioraram-se
substancialmente desde 2014, refletindo principalmente os aumentos nos
gastos”. Para resolver o problema, a organização calcula que seria
necessário “um excedente primário de cerca de 2% do PIB” para
estabilizar a dívida pública no médio prazo. A OCDE recomenda a
implementação de um ajuste fiscal planejado por meio de cortes
permanentes nos gastos, além de aumentar gradualmente a idade de
aposentadoria e indexar os benefícios da Previdência aos preços ao
consumidor e não ao salário mínimo.
Outra recomendação é deslocar
mais recursos para as transferências que chegam aos pobres – incluindo o
Bolsa Família – e desvincular o piso de benefícios do salário mínimo. O
relatório, a OCDE avalia que Bolsa Família é “um programa altamente
eficaz mas responde por apenas 0,5% do PIB, do total de 15% do PIB
direcionado para os gastos sociais”. “Alocar mais recursos para este
programa e simultaneamente reformar outros programas de transferência
ajudaria a diminuir a desigualdade e pobreza”, avalia.
A OCDE
também sugere a formalização da autonomia do Banco Central, com
restrição da exoneração do presidente da autarquia a casos de grave
improbidade, e preservar a autonomia orçamentária. Para a
organização, é preciso também diminuir as políticas de apoio industrial
voltadas a setores e localidades específicas, inclusive incentivos
fiscais.
Outra orientação é restringir as indicações políticas,
principalmente nas empresas estatais, reforçar incentivos ao desempenho
nas empresas públicas e fazer auditorias mais sistemáticas em todas as
despesas, inclusive as emendas parlamentares. Para evitar a
corrupção em contratos públicos, a OCDE sugere revisar as leis de
contratação pública, utilizar mais órgãos de compra centralizados e
reforçar os procedimentos de denúncia e leniência.
Para
melhorar o ambiente de negócios, a sugestão é consolidar os impostos
estaduais e federais sobre o consumo em um único imposto sobre valor
agregado com uma base ampla, com reembolsos completos para o Imposto
sobre Valor Agregado (IVA) pago nos insumos e taxa zero para as
exportações.
A OCDE avalia que “o crédito de longo prazo tem
estado sob o domínio do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES), o que cria um campo de atuação desigual e pode
prejudicar o desenvolvimento do financiamento para o investimento
privado”, diz o relatório. “A recente decisão de descontinuar
gradualmente os subsídios nas operações de empréstimo do BNDES permitirá
redefinir o seu papel”, acrescenta.
Para a organização, é
preciso também concentrar os empréstimos do BNDES em áreas onde o setor
privado tem dificuldade de operar, inclusive no financiamento de
pequenas start-ups (empresas iniciantes inovadoras, com alto potencial de crescimento) e em projetos de inovação.
A
OCDE considera também que é preciso usar o BNDES para organizar
empréstimos sindicados entre consórcios de bancos para o setor de
infraestrutura e para liderar a criação de instrumentos financeiros
estruturados. Além disso, há a sugestão de “fazer um uso mais amplo da
capacidade técnica do BNDES para dar assistência às entidades públicas
na estruturação de projetos, especialmente governos subnacionais
[estaduais e municipais]”.
A
OCDE avalia que há elevadas barreiras ao comércio internacional. Para
isso, é preciso reduzir as tarifas e diminuir as exigências de conteúdo
nacional. A organização reconhece que a integração na economia global
“realocará alguns empregos entre empresas e setores”. Por isso, será
necessário reforçar a capacitação e os programas de assistência à
procura por emprego para os trabalhadores afetados pela redução das
barreiras.
A OCDE lembrou
que o desmatamento diminuiu até 2014, mas aumentou neste ano. Por isso, é
preciso garantir que o desmatamento continue em declínio, “inclusive
por meio da aplicação rígida das leis e da manutenção do status de áreas atualmente sob proteção ambiental”.
Pelos
cálculos da organização, o aprofundamento das reformas para fortalecer
as instituições, a melhora do clima de negócios e a maior integração à
economia global podem elevar o PIB em pelo menos 20% ao longo de 15
anos, "o que aumentaria a renda das famílias e ajudaria a compensar os
efeitos negativos sobre o crescimento do envelhecimento rápido da
população". "Um melhor direcionamento das transferências sociais para as
famílias mais pobres seria crucial para fomentar o crescimento
inclusivo", diz a OCDE.
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