A audiência pública realizada na segunda-feira (23) sobre a
construção de uma Faixa de Infraestrutura em Pontal do Paraná, no
litoral do estado, trouxe à tona a discussão do projeto que promete
mudar a cara da região. A proposta prevê a construção de uma nova
rodovia para desafogar a PR-412 e para ligar a PR-407 à zona portuária.
Mas o projeto ainda está em fase de debate e depende de licenças
ambientais e de financiamento para sair do papel, o que não deve
acontecer tão cedo.
A ideia de construir uma nova rodovia em Pontal do Paraná é um desejo
antigo do estado. A proposta passou por uma série de modificações até
chegar na Faixa de Infraestrutura, projeto que ganhou corpo na gestão do
governador Beto Richa (PSDB).
A Faixa de Infraestrutura seria um espaço construído em paralelo à
PR-412, a dois quilômetros de distância no sentido Mata Atlântica. O
espaço começaria na PR-407, próximo à Praia de Leste, e iria até Ponta
do Poço, no balneário de Pontal do Sul, onde está localizada a zona
portuária de Pontal do Paraná. Seriam 19 quilômetros de extensão e 175
metros de largura.
Com uma população de quase 25 mil habitantes, Pontal do Paraná tem
PIB de R$ 358 milhões e o setor de serviço como a principal atividade
arrecadadora de impostos. A faixa contaria com uma rodovia com pista dupla, sendo duas faixas
por sentido, separadas por canteiro central e acostamentos. Essa rodovia
teria quatro ligações para a PR-412, que dá acesso às praias do
balneário da região. Além da rodovia, a faixa contaria ainda com um
canal de macrodrenagem, espaço para construção de uma nova ferrovia e
melhorias nas linhas de transmissão de energia elétrica, saneamento e
gasoduto.
O projeto levado para discussão em audiência pública prevê a
construção, apenas, da rodovia e do canal de dragagem. O tempo
necessário para fazer a obra seria de 24 meses e o custo é avaliado em
R$ 369 milhões, incluindo o valor para desapropriações. As demais
estruturas (ferrovia, linha de transmissão de energia e tubulações de
água e esgoto) terão seu lugar reservado durante as obras, mas só serão
construídas se houver necessidade. Para isso, terá que haver
financiamento à parte.
A primeira audiência pública foi realizada na segunda-feira (23) e
nela foi apresentado o Relatório e o Estudo de Impacto Ambiental. O
projeto ainda pode sofrer mudanças e o Instituto Ambiental do Paraná
(IAP) vai analisar os documentos apresentados pelo governo para ver se
pede estudos complementares.
Só depois é que o órgão ambiental vai decidir se concede o
licenciamento ambiental, dividido em três etapas. A primeira seria a
licença ambiental prévia, uma espécie de autorização do projeto. Depois,
seria necessária a expedição da licença de instalação para início das
obras e, por último, licença de operação.
José Richa Filho, secretário de Infraestrutura e Logística do Paraná,
afirma que a licença prévia não deve sair antes de dez meses. Nesse
período, o governo ainda precisa definir como fará o financiamento da
obra, caso ela seja autorizada. O caminho em estudo, segundo o
secretário, seria parceria público-privada e a construção de uma pista
simples na nova rodovia, para depois duplicá-la.
Com projeto de infraestrutura para Pontal do Paraná, o governo quer
tornar a região do litoral paranaense uma zona portuária. A faixa de
infraestrutura ligaria até a Ponta do Poço, onde está a zona portuária
da região. O local conta apenas com a Techint operando e é esperada a
construção do Terminal Portuário Porto Pontal, além de outros
empreendimentos portuários privados.
“Vamos desenvolver a vocação natural da cidade com a zona portuária”,
afirma José Richa Filho, secretário de Infraestrutura e Logística do
Paraná. O secretário também destaca que o município de Pontal vive uma
“situação deprimida”, com uma série de dificuldades porque tem somente a
PR-412 como principal via, misturando diversos tipos de tráfego em um
só local.
A proposta de transformar Pontal em uma região portuária é vista com
bons olhos pela Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Pontal do
Paraná. Segundo seu presidente, Gilberto Espinosa, com as obras o
município “sairia de uma situação de penúria para uma situação de
destaque portuário e turístico”.
Ele destaca o crescimento da arrecadação municipal com a possível
instalação de terminais portuários na região e a valorização do mercado
imobiliário. Também crê que o projeto geraria empregos, principalmente
fora da temporada, única época em que a região recebe turistas e
movimenta o comércio. “O que precisaríamos é cria um observatório social
para ver se o que seria arrecadado seria revertido em benefício para o
município”, diz Espinosa.
Ricardo Bueno Salcedo, diretor do Terminal Portuário Porto Pontal,
afirma que sem a construção da nova estrada não há condições de o
terminal operar. A empresa responsável pelo empreendimento, a JCR
Participações, doou ao governo o projeto de engenharia da faixa de
infraestrutura realizado há cerca de três anos.
A principal polêmica em torno do projeto está no seu impacto
ambiental e nos efetivos ganhos para a população. Em artigo publicado na
Gazeta do Povo, a coordenadora executiva do Observatório de Conservação
Costeira do Paraná (OC2), Dailey Fischer, e o professor da Universidade
Federal do Paraná (UFPR), Junior Ruiz Garcia, afirmam que o projeto é
um cavalo de troia para Pontal do Paraná.
Eles defendem que o projeto visa atender interesses da indústria
portuária e que a construção de uma nova rodovia com tráfego intenso de
caminhões traria poluição química e degradação ambiental. Outra
preocupação apontada por ambientalistas consultados pela reportagem é
que as obras causem supressão de mata nativa, com prejuízos para a
biodiversidade do estado. Além disso, poderia afetar a região de mangue e
os mananciais, o que traria prejuízos para toda à população.
Jorge Augusto Callado, presidente do Conselho Regional de Biologia,
afirma que é preciso desenvolver o projeto dentro dos parâmetros
ambientais seguros para se preservar a região. Ele também condiciona a
aprovação do projeto à adoção de medidas compensatórias e mitigatórias
para diminuir os prejuízos causados pela construção e desenvolvimento da
zona portuária.
O professor do departamento de infraestrutura da UFPR, Eduardo
Ratton, lembra que o projeto terá que passar por valoração, ou seja,
terá que ser colocado na balança os pontos positivos e os negativos para
estabelecer se ele tem condições de ser aprovado ou não. Caso os pontos
positivos sejam maiores que os negativos, seriam criadas medidas
mitigatórias para compensar os danos ambientais.
O secretário de Infraestrutura e Logística do Paraná, José Richa
Filho, afirma que a faixa de infraestrutura vai melhorar o zoneamento da
cidade, estabelecendo, em conjunto com o Plano de Diretor, as áreas que
seriam de preservação e quais poderiam ser ocupadas. Ele também afirma
que a atividade portuária não vai prejudicar o turismo da região. Com uma população de quase 25 mil habitantes, Pontal do Paraná tem
PIB de R$ 358 milhões e o setor de serviço como a principal atividade
arrecadadora de impostos.
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