A padronização de procedimentos para o descarte de resíduos no Porto
de Santos e a adoção do conceito de Produção Mais Limpa são a saída
proposta por estudantes do curso de Engenharia Ambiental da Universidade
Católica de Santos (UniSantos) para operações mais sustentáveis no cais
santista. Para as alunas recém-formadas, cabe à Autoridade Portuária
coordenar o processo de destinação dos produtos descartados.
O estudo deu origem ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de
Letícia Santos Silva Pereira e Gisele Pereira. Elas foram orientadas
pelo professor Marco Antonio Cismeiro Bumba e apresentaram o projeto no
mês passado. A pesquisa usou como base o conceito Produção Mais Limpa, que prevê a
não geração de resíduos ou ainda a minimização desse impacto ao meio
ambiente. As alunas estudaram o descarte de materiais no Porto de
Santos, incluindo seus terminais e ainda as embarcações de cruzeiros.
Letícia e Gisele utilizaram como fonte de informações o Relatório
Anual de Geração de Resíduos Sólidos, publicado pela Companhia Docas do
Estado de São Paulo (Codesp), a estatal que administra o Porto de
Santos. O estudo leva em conta os materiais descartados por
arrendatárias, embarcações e pela própria Autoridade Portuária.
“A partir do levantamento dos resíduos mais gerados fizemos a
formação de matriz de impacto a partir do grau de periculosidade”,
explicou Gisele. A classificação de resíduos sólidos envolve a identificação do
processo ou atividade que lhes deu origem, de seus componentes e
características. Eles são divididos em duas classes. A primeira se
refere aos produtos perigosos e a segunda aos que não oferecem riscos.
Os produtos perigosos podem ser inflamáveis, corrosivos ou tóxicos.
Eles oferecem riscos durante a manipulação ou quando são armazenados.
Solventes e misturas de tratamento químico são os resíduos mais
perigosos gerados no cais santista.
“Todas as empresas destinam seus resíduos adequadamente. Elas atendem
a legislação, mas o que a gente quis chamar a atenção é a empresa
pensar no processo, na fonte, reduzir a geração de resíduos. Isso também
vai reduzir os custos dela. Para você destinar um resíduo perigoso, o
custo é alto”, destacou Gisele.
De acordo com o levantamento, em 2014, o Porto de Santos produziu
mais de 2 milhões de líquidos com substâncias perigosas. Segundo as
estudantes, os resíduos das duas classes são divididos quase na mesma
proporção.
Entre os resíduos orgânicos, a dupla cita o lixo retirado de
embarcações que transportam passageiros. Neste caso, durante a temporada
de cruzeiros o volume gerado no Porto de Santos aumenta
consideravelmente. Já os granéis sólidos de origem vegetal são
dispersados durante todo o ano, principalmente nas épocas de embarques
de safras, nos primeiros meses do ano.
Para as estudantes, a Autoridade Portuária deveria padronizar a
destinação de resíduos produzidos no Porto de Santos. A ideia é que
sejam indicados os locais para onde os produtos deveriam ser levados,
além dos procedimentos para reaproveitamento de materiais.
“Em cima dessa matriz de impacto, nós percebemos que, muitas vezes, é
difícil mensurar o tipo de destinação dos resíduos das arrendatárias
porque não se tem um processo único. Ou seja, cada empresa tem uma forma
de destinação. Então, fica meio difícil mensurar. Se houvesse uma
padronização dos processos, com certeza facilitaria para reduzir esses
resíduos”, destacou Gisele.
Gisele e Letícia também apontam a necessidade de capacitação de
pessoal e investimentos em tecnologia como medidas para reduzir a
produção de resíduos no Porto de Santos. A adoção de procedimentos, treinamentos de funcionários e ainda a
aquisição de novos equipamentos são fatores que podem reduzir a geração
de resíduos no Porto de Santos. Para as estudantes, também é preciso
conscientizar os gestores das empresas sobre o conceito de Produção Mais
Limpa, que é um investimento com retorno garantido.
“Está na hora das empresas perceberem que a Produção Mais Limpa
produz lucro a médio e longo prazo. Não é só gastar dinheiro, é
investir’, destacou o professor Marco Antonio Cismeiro Bumba, que
orientou a pesquisa de duas alunas da Universidade Católica de Santos
(UniSantos).
Letícia Santos Silva Pereira e Gisele Pereira concluíram o curso de
Engenharia Ambiental no início deste mês. Elas estudaram a geração de
resíduos em um único ramo de atividade: o Porto de Santos.
As estudantes propuseram medidas para minimizar a geração de resíduos
no cais santista. Elas podem ser aplicadas em vários setores, desde os
escritórios. Nesses locais, até o controle de impressões foi citado como
uma medida de evitar a dispersão de materiais.
A utilização de sistemas de reúso de água, a instalação de máquinas
para a separação de resíduos orgânicos e recicláveis e ainda a devolução
de produtos dispersados aos fabricantes estão entre as medidas
propostas. Elas também destacaram os treinamentos voltados ao manuseio desses
produtos e a aplicação da logística reversa, além dos pontos de coleta
seletiva nas áreas comuns dos terminais ou da própria Companhia Docas do
Estado de São Paulo (Codesp), a estatal que administra o Porto de
Santos.
O professor orientador da pesquisa destaca a necessidade de que as
instalações portuárias cumpram todas as legislações brasileiras e ainda
as internacionais. “Na Europa, existe a Diretiva Rhos. Ela pressupõe que
não pode ter metal pesado em nenhuma etapa do processo produtivo, desde
o minério até o descarte do produto. Se você não tiver esse
pressuposto, o seu produto não vai para o mercado”.
Para Bumba, os empresários devem pensar em minimizar a quantidade de
lixo em cada etapa da produção. “Se você não fizer isso, no final,
somando todos os resíduos, você vai ter uma quantidade imensa de
resíduos. E o homem vai ter que conviver com esse passivo ambiental que
vai ficar na natureza sem tratamento ou sem destino correto”.
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