sexta-feira, 2 de maio de 2025

Companhias de navegação incrementam tarifas apesar da incerteza no comércio exterior


 

Mesmo em meio a um cenário de comércio internacional cada vez mais volátil, as principais companhias de navegação parecem prontas para implementar aumentos gerais de tarifas (GRIs), desafiando a lógica tradicional de mercado baseada na oferta e na demanda. Esse é o alerta de Jon Monroe, analista do setor marítimo, portuário e de logística, que observa uma transformação significativa no comportamento tarifário do setor.

“Este ano, as companhias de transporte abandonaram o antigo modelo de oferta versus demanda”, diz ele, observando que “apesar da capacidade recorde da frota, elas resistiram às reduções de tarifas, o que marca uma mudança estratégica significativa”. Atualmente, os proprietários de cargas estão renegociando seus contratos com as companhias marítimas, buscando tarifas entre US$ 1.500 e US$ 2.500 para embarques para a Costa Oeste dos Estados Unidos (USWC), valor que pode até cair dependendo das condições de mercado.

Isso ocorre após acordos iniciais que variam de US$ 1.600 a US$ 1.800, com uma sobretaxa de US$ 1.000 para a Costa Leste dos EUA (USEC). Monroe enfatiza que "as companhias de navegação estão respondendo com firmeza, negociando diretamente com os Operadores Não-Navios de Transporte Comum (NVOCCs) e demonstrando maior resistência à pressão de redução nas tarifas. Isso indica que permanecerão unidas em seus esforços para aumentar as tarifas."

A Maersk anunciou uma sobretaxa de alta temporada (PSS) de US$ 2.000 a partir de 15 de maio. Paralelamente, um GRI para Carga de Todos os Tipos (FAK) já foi implementado, com aumentos variando de US$ 2.500 a US$ 3.500. No entanto, de acordo com Monroe, nem todas as companhias de navegação seguem a mesma linha. “Apesar do apoio formal aos GRIs, muitos estão oferecendo tarifas especiais próximas a US$ 1.700 para o USWC, tentando manter o volume até o final de abril”, explica.

À incerteza quanto às tarifas soma-se uma contração na demanda. Os pedidos de remessa começaram a diminuir, em parte em resposta aos aumentos sustentados de preços. Adiciona-se a isso a disponibilidade cada vez mais limitada de espaço, resultante de cancelamentos de viagens e redução da frequência de navegação. "As companhias de navegação estão evitando atracar na China para mover seus navios para rotas do Sudeste Asiático, reduzindo ainda mais a capacidade disponível", ressalta o analista.

Há rumores, também, circulando no setor sobre uma possível decisão da MSC, a maior companhia de navegação do mundo em capacidade, de remover permanentemente várias de suas restrições operacionais, o que poderia impactar ainda mais a capacidade e os preços. A confluência de todos esses fatores — incerteza de tarifas, capacidade reduzida e mudanças de rotas — sugere que os próximos meses serão particularmente imprevisíveis em termos de preços e disponibilidade.

"Estamos entrando em uma fase do mercado em que os padrões tradicionais não se aplicam mais, e os jogadores precisam se adaptar rapidamente às novas regras do jogo", explica Jon Monroe. Enquanto isso, na frente portuária, a introdução de novos impostos pode prejudicar significativamente a atividade portuária, especialmente em centros importantes como os portos de Los Angeles (LA) e Long Beach (LB). Embora as mudanças tarifárias possam parecer questões distantes, suas repercussões vão muito além das docas, afetando indústrias interconectadas essenciais para as economias locais e nacionais.

“Uma queda nas importações significaria menos navios chegando, levando à diminuição do emprego portuário, menos atividade para estivadores, pátios de contêineres e centros de distribuição, bem como dificuldades para exportadores, importadores e pequenas empresas dependentes do comércio internacional”, projeta Monroe. O complexo portuário LA-LB, o maior dos Estados Unidos, gera mais de 3 milhões de empregos em todo o país. Somente em 2022, as atividades portuárias geraram quase US$ 2,78 bilhões em impostos estaduais e locais e US$ 4,73 bilhões em impostos federais, refletindo seu papel fundamental na economia.

"Menos navios não significam apenas portos mais vazios, mas também uma contração generalizada de empregos, receitas comerciais e receitas tributárias. De transportadores terrestres a trabalhadores de armazéns e governos locais, todos sentirão o impacto dessa potencial desaceleração, que pode representar o início de uma profunda mudança econômica se não for gerida com visão estratégica", alerta Monroe.

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