sexta-feira, 28 de novembro de 2025

COP 30, em Belém, decepciona e não consegue avanços para superar uso de combustíveis fósseis


 

A COP30, realizada em Belém de 10 a 21 de novembro, marcou um momento histórico para a diplomacia climática e para o Brasil. Pela primeira vez, a conferência anual da ONU sobre mudanças climáticas ocorreu na Amazônia, região fundamental para a estabilidade climática global.

O evento foi concebido como a "COP da implementação", um fórum onde se esperava que as declarações anteriores se transformassem em compromissos concretos, especialmente após o sinal político da COP28 em Dubai, que reconheceu a necessidade de transição para longe dos combustíveis fósseis. Desde o início, o Brasil buscou transformar essa intenção em um roteiro global.

No entanto, isso não aconteceu. O objetivo inicial era que a COP30 adotasse um plano formal para que o mundo avançasse rumo a uma eliminação progressiva e ordenada dos combustíveis fósseis: petróleo, carvão e gás. A iniciativa refletia a convicção de que esses são os principais responsáveis ​​pelo aquecimento global e o ponto cego das negociações climáticas.

O Brasil pretendia fazer dessa omissão histórica um tema central do debate, destacando a urgência de ações antes que o aquecimento global atinja níveis irreversíveis. A proposta rapidamente ganhou repercussão internacional. Mais de 80 países endossaram a ideia, juntamente com organizações da sociedade civil e uma parcela significativa da comunidade científica.

Segundo o presidente Luis Inácio Lula da Silva, até mesmo a China demonstrou um papel construtivo, exercendo uma “liderança discreta” e uma postura colaborativa. No entanto, a ausência dos Estados Unidos — fora do Acordo de Paris e sem delegação na cúpula — interrompeu esse debate e aprofundou a polarização.

Apesar desse vácuo político, Belém foi palco de avanços técnicos e compromissos paralelos que confirmam que a transição energética está em curso. O acordo conhecido como “mutirão global” reconheceu que a transformação do sistema energético é irreversível. Governos, empresas e instituições financeiras anunciaram investimentos contínuos para expandir as redes elétricas, fortalecer o armazenamento de energia e acelerar a eletrificação.

O compromisso de promover combustíveis sustentáveis ​​para setores de difícil descarbonização, como siderurgia, cimento, transporte marítimo e aviação, também foi reafirmado. O Brasil aproveitou a oportunidade para lançar a Declaração de Belém sobre Industrialização Verde, com o objetivo de coordenar governos e empresas na expansão de indústrias de baixo carbono e na superação das lacunas de investimento.

Isso foi complementado por iniciativas focadas em eficiência energética, uma área em que o mundo está atrasado em relação às metas estabelecidas na COP28. Também houve avanços em mecanismos de cooperação para fortalecer os mercados de carbono e os padrões de medição, com a China se juntando a um grupo de trabalho internacional focado em aprimorar a qualidade dos sistemas de monitoramento e verificação.

No entanto, nenhum desses avanços conseguiu sustentar o objetivo central: incorporar um roteiro global para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis no acordo final. A Arábia Saudita, a Rússia e outros países produtores de petróleo exerceram pressão decisiva para bloquear qualquer menção explícita a eles.

O resultado foi um texto final que sequer inclui a expressão "combustíveis fósseis", um retrocesso que expôs a desconexão entre a urgência climática e a dinâmica geopolítica. O componente financeiro também atuou como um freio. Economistas como Akash Deep alertam que, para muitos países em desenvolvimento, os combustíveis fósseis continuam sendo a opção mais barata, considerando os altos custos iniciais das energias renováveis, da conexão à rede e do armazenamento necessário.

A falta de uma arquitetura financeira global para compensar essa lacuna mantém o sistema energético ancorado em tecnologias intensivas em carbono, apesar dos avanços tecnológicos. A Parceria NDC — uma coalizão global de países e instituições cujo objetivo é apoiar os países na implementação e aprimoramento de seus planos climáticos nacionais no âmbito do Acordo de Paris — estima que os países em desenvolvimento — com exceção da China — precisarão de US$ 2,4 trilhões anualmente até 2030 para atingir suas metas de 2035, um desafio que nenhuma COP conseguiu resolver até o momento.

Embora o roteiro tenha ficado de fora do acordo, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, preparará um relatório técnico para trazer o tema de volta à tona em futuras cúpulas. O Brasil afirma que o que aconteceu em Belém abre um novo capítulo: o da discussão aberta sobre o que foi evitado por décadas. No entanto, a lacuna entre a velocidade exigida pela ciência e a vontade política persistem.

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Porto de Chancay concentra 62% das exportações do agronegócio do Peru para a China


 

O Ministério do Comércio Exterior e Turismo do Peru informou que, entre janeiro e setembro de 2025, o Terminal Portuário Multiuso de Chancay movimentou 62% das exportações agrícolas do Peru para a China.

Desde o início de suas operações, em novembro de 2024, o terminal acumulou embarques totalizando US$ 477 milhões, dos quais US$ 446 milhões correspondem ao período de janeiro a setembro de 2025, segundo o jornal Gestión.

A China permaneceu como o principal destino das cargas movimentadas em Chancay, representando 78% do volume total. México e Equador vieram em seguida. Resumo do Período Entre janeiro e setembro de 2025, as exportações agrícolas do Peru para a China totalizaram US$ 338 milhões. Desse montante, US$ 210 milhões foram movimentados por Chancay.

Esses produtos representaram 57% do valor movimentado pelo terminal, sendo os mirtilos, abacates, uvas e tangerinas os produtos mais importantes. Também foram registrados embarques de peixes (17%), minerais (16%) e produtos químicos (9%). Prevê-se que o tráfego portuário atinja 350.000 TEUs até o final de 2025. As estimativas para 2026 indicam que a atividade ultrapassará 700.000 TEUs.

quarta-feira, 26 de novembro de 2025

Setor marítimo se ecaminha para final do ano sobrecarregado por excesso de capacidade, tarifas em queda e ambiente frágil


 

O relatório "Ti's Ocean Freight Rate Tracker Q4 2025" confirma que o setor marítimo se encaminha para o final do ano sobrecarregado por excesso de capacidade, tarifas em queda e um ambiente macroeconômico ainda frágil, apesar da trégua temporária entre os Estados Unidos e a China. O relatório enfatiza que, embora o acordo alcançado pelas duas potências "traga alívio temporário para empresas e consumidores", ele não elimina a instabilidade subjacente.

A eliminação de algumas taxas portuárias e de embarcações aliviou as tensões no curto prazo, mas a Ti alerta que "as cadeias de suprimentos parecem estar se afastando da dependência da China", uma mudança estrutural que está redefinindo o comércio global. A queda nas tarifas é o fenômeno dominante do trimestre atual. Os fatores por trás dessa queda são claros: as tarifas americanas e o significativo excesso de capacidade prevalecente.

O impacto é particularmente severo nas principais rotas. O relatório mostra que "as tarifas spot caíram impressionantes 65,5% em outubro, em comparação com o mesmo período do ano anterior". Na rota Ásia-Europa, as taxas de câmbio despencaram 53,4% em relação ao trimestre anterior e 4,3% em relação ao ano anterior, enquanto as taxas transatlânticas entre a Europa e a Costa Leste dos EUA caíram 8,6% em relação ao ano anterior.

A Ti alerta que, em um contexto em que as taxas podem “flutuar em quase 25% em um único mês, como aconteceu entre setembro e outubro”, o mercado permanece imprevisível. O índice global de atividade portuária da Ti subiu 4,8% em relação ao trimestre anterior, impulsionado pela força da economia americana. O relatório observa que o consumo nos EUA “permanece saudável” e está sustentando um crescimento de 12,3% no volume na América do Norte.

Em contraste, a Europa apresenta estagnação: as vendas no varejo mal cresceram e o setor manufatureiro permanece fraco, com o Índice de Gerentes de Compras (PMI) passando de contração para estagnação. A China, por sua vez, começa a sentir os efeitos das tensões comerciais. O PIB do terceiro trimestre cresceu apenas 4,8%, o ritmo mais lento em um ano, enquanto as vendas no varejo desaceleraram pelo quarto mês consecutivo. No entanto, o fator estrutura mais relevante é a expansão contínua da capacidade. Ao final do terceiro trimestre, a frota nominal era 7,6% maior do que no ano anterior, impulsionada por uma carteira de encomendas de quase 10 milhões de TEUs, equivalente a 30% da frota global. As principais companhias de navegação estão liderando essa expansão. Ti observa que “a MSC já opera uma frota de 7 milhões de TEUs, um recorde do setor”, enquanto a Hapag-Lloyd tem 24 encomendas e a Maersk encomendou entre 8 e 12 navios de 22.000 TEUs. Com a entrada de nova capacidade no mercado e a retomada gradual do trânsito pelo Canal de Suez, Ti conclui que “as taxas de frete continuarão a cair no curto prazo”.

Por outro lado, os preços do combustível marítimo também caíram no trimestre, pressionados pelo aumento da oferta, pela menor demanda e pelos baixos preços de referência do petróleo bruto. Embora os Estados Unidos continuem sendo o mercado mais caro, os preços caíram 20,8% em outubro em comparação com o mesmo período do ano anterior, sustentados pelos altos estoques de petróleo. Enquanto isso, o índice de confiança mostra diferenças significativas por rota. Na rota Ásia-Europa, 56,8% esperam aumentos moderados de tarifas nos próximos três meses. Na rota Ásia-Costa Oeste dos EUA, as expectativas estão divididas, enquanto na rota Europa-Costa Leste dos EUA, 46,3% antecipam reduções. Globalmente, 53,1% dos entrevistados esperam algum tipo de aumento de tarifa, embora com variações regionais notáveis. Tendência para tarifas estáveis ​​ou menores,

A combinação de excesso de capacidade — que cresce cerca de 9% ao ano —, desaceleração econômica na Europa e na China e uma alta temporada já concluída mantém as tarifas sob pressão. O relatório alerta que, apesar da trégua na guerra comercial, “a incerteza persiste e um potencial aumento de tarifas poderia acelerar a deterioração”. Olhando para as negociações contratuais futuras, prevê-se uma maior disciplina na capacidade: "As companhias de navegação intensificarão os cancelamentos de viagens e implementarão aumentos gerais de tarifas (GRIs) para estancar a queda nos preços das passagens". No entanto, a eficácia dessas medidas ainda precisa ser comprovada em um mercado dominado por excesso de oferta e instabilidade.